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Homem branco furta chácara e acusa proprietário negro de sequestro

Dono da chácara está preso com mais dois colegas de trabalho desde o último dia 20

Ilustração mostra três homens negros presos algemados e um homem branco que fala com dois policiais

Foto: Ilustração: Vinícius de Araújo/Alma Preta Jornalismo

29 de julho de 2022

Acusado de furtar chácara, Fabiano Plantier, um homem branco, denunciou o proprietário do imóvel, Wilson Pereira, e mais dois homens negros, Thiago Barbosa e Celio Alexandre, por sequestro. Os três rapazes, que trabalham juntos com serviços de vidraçaria, estão presos no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Diadema, na Região Metropolitana de São Paulo. O caso aconteceu no dia 20 de julho durante uma blitz policial na Avenida Robert Kennedy, no bairro de Santo Amaro, na capital paulista.

A história começa quando, dias antes do caso, um dos acusados, Wilson Pereira, teria descoberto que a chácara dele foi furtada por um inquilino, um homem branco identificado como Fabiano Plantier, que alugou o local para a instalação de uma clínica de reabilitação. O inquilino teria deixado o espaço sem pagar a mensalidade e sem avisá-lo.

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Depois de conseguir localizar o inquilino, Wilson, que trabalha com uma empresa de vidraçaria, entrou em contato com outros dois funcionários – Thiago Barbosa e Celio Alexandre – para ir ao endereço e buscar explicações sobre o furto na chácara. Ao chegar no local, Fabiano teria informado que teria vendido os objetos e que poderia levá-los ao endereço da pessoa que comprou os móveis.

Sendo assim, os quatro entraram em um veículo e, durante o trajeto, passaram por uma blitz policial, na Avenida Robert Kennedy, em Santo Amaro. Foi quando Fabiano teria gritado por socorro e disse que estava sendo sequestrado pelos rapazes.

A polícia chegou a fazer uma revista no veículo e nos homens apontados como sequestradores, mas nada de ilícito foi encontrado. Diante do caso, todos foram conduzidos para o 11º DP de Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo, onde o caso foi registrado.

Na delegacia, Fabiano negou que furtou a chácara e disse em depoimento que teria sido retirado de casa pelos três, colocado dentro do carro e que foi ameaçado de morte. Além disso, também disse que os homens afirmaram que faziam parte do PCC e que ele seria morto na chácara.

Já Wilson informou que durante o trajeto o Fabiano mudou a conversa dizendo que não saberia dizer se os móveis estavam no local que teria indicado e então, assim que viu a viatura, resolveu parar o carro e informar sobre o roubo na chácara, ao qual ele já tinha aberto um boletim de ocorrência. À polícia, ele também informou que ninguém agrediu e ameaçou Fabiano e que não faz parte de nenhuma facção criminosa. Os outros dois funcionários, Thiago e Celio, confirmaram a versão de Wilson.

Todas as informações acima constam no inquérito policial, ao qual a Alma Preta Jornalismo teve acesso. Apesar da revista no veículo não ter revelado nada ilícito, a polícia manteve a prisão preventiva dos três e os indiciou por sequestro e cárcere privado, apenas com base no depoimento do homem. O inquérito também indica que Fabiano estava com ferimentos aparentes e foi encaminhado ao Hospital. O prontuário médico identificou que Fabiano estava com uma lesão considerada leve na região da cabeça.

O Ministério Público de São Paulo seguiu o entendimento da Polícia Civil e apresentou denúncia contra Wilson Pereira, Thiago Barbosa e Celio Alexandre, que estão detidos no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Diadema. Na denúncia, o promotor Claudio Henrique Bastos Giannini também apontou que “o fato de possuírem bons antecedentes, ocupação lícita e residência fixa é insuficiente para a revogação da prisão”.

“Além disso, repita-se, possivelmente integram grupo extremamente perigoso nesta Capital, sendo a segregação cautelar necessária para garantia da ordem pública e, ainda, da integridade física do ora ofendido”, cita o promotor em um trecho da denúncia.

Apontado como vítima de sequestro, Fabiano Plantier também foi preso pois havia um mandado de prisão em aberto por falta de pagamento de pensão alimentícia.

‘Injustiça praticada por causa da cor’, acusam familiares

Familiares apontam injustiça e abuso na decisão da Polícia Civil e do Ministério Público e questionam o motivo deles serem mantidos presos já que Wilson foi vítima de furto e que nada de ilícito foi encontrado com eles.

À reportagem, a esposa de Wilson, Aline Lacerda, disse que Fabiano era inquilino de Wilson desde abril deste ano e que após um vizinho informar que a polícia foi até a chácara à procura de Fabiano, Wilson foi ao local e se deparou com o imóvel violado e furtado. A reportagem teve acesso a vídeos que mostram a chácara após o furto atribuído ao ex-inquilino. Confira abaixo:

*Correção: a chácara fica localizada em Parelheiros, zona sul de São Paulo, não em Diadema.

Ela ressalta que o marido abriu um boletim de ocorrência no dia que soube do furto na chácara, porém, em nenhum momento a polícia considerou a informação. A Alma Preta Jornalismo teve acesso ao B.O, registrado no dia 19 de julho no 25º DP de Parelheiros, que também traz informações sobre alguns objetos furtados na chácara, como microondas, geladeira e camas.

Aline estima um prejuízo de quase R$ 25 mil e ressalta que chegou a pedir empréstimo no banco para custear um advogado para o marido e os funcionários, já que eles são de origem humilde e possuem dificuldades financeiras.

Para Aline, a prisão tem motivação racista. “A gente sabe que é pela cor e acho que isso que revolta, porque é uma injustiça praticada por causa da cor”, pontua.

A irmã de Thiago Barbosa, Fernanda Nascimento, relata que as famílias estão desesperadas e não entendem o motivo da manutenção da prisão. “Eles continuam lá dentro, mesmo tudo provando que eles são inocentes. A conclusão que a gente chega é porque eles são três homens pretos, porque não têm motivos para eles estarem lá dentro”, afirma.

“Meu irmão está em estado de choque porque ele não acredita em tudo o que está acontecendo”, completa Fernanda.

Outros casos

Segundo Aline, vizinhos da chácara e familiares dos internos da clínica também relataram casos de maus-tratos e abusos no centro conduzido por Fabiano.

No dia da prisão, ela diz que chegou a levar familiares de internas da clínica que teriam desaparecido durante a internação no centro e informa que também há relatos do uso dos cartões de crédito das internas por Fabiano. No entanto, segundo Aline, a polícia não coletou os depoimentos.

Em consulta ao site do Tribunal de Justiça de São Paulo é possível localizar sete processos em nome de Fabiano Plantier, incluindo processo por estelionato aberto em 2006 pelo foro de São Sebastião. O caso foi arquivado no ano seguinte.

“Eu chamei duas famílias que foram até a delegacia de madrugada para falar mais coisas sobre o Fabiano – que ele fez empréstimo no cartão dos familiares deles que estão desaparecidos – mas ninguém quis ouvir outras queixas que tinham contra ele”, conta Aline.

A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Fabiano Plantier e mantemos o espaço aberto em caso de manifestação.

Leia também: “Menino de ouro”: jovem negro é preso acusado de sequestro; família nega envolvimento

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