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Jovem indígena é morto por PM em fazenda no Mato Grosso do Sul

Ministério dos Povos Indígenas exige afastamento imediato e responsabilização do PM responsável pelo assassinato; dona do local foi indicada como "especialista" em audiência do Marco Temporal
Denúncias relatam que PMs ainda tentaram mover a vítima sem vida até uma área de mata.

Foto: Reprodução / Polícia Militar do Estado do Mato Grosso do Sul

19 de setembro de 2024

Um jovem indígena do povo Guarani-Kaiowá foi morto após ação policial violenta no território indígena de Nhanderu Marangatu, na cidade de Antônio João, no Mato Grosso do Sul. Segundo Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), a operação ocorreu durante a madrugada até a manhã de quarta-feira (18).

Em nota conjunta com a organização indígena Aty Guasu e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a APIB informa que Neri Ramos da Silva, de 23 anos, foi alvejado na cabeça por um disparo feito pela polícia. Barracos da comunidade foram destruídos e outras duas pessoas foram feridas pelos policiais, que já teriam adentrado no território atirando.

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Segundo as denúncias, os PMs tentaram remover o corpo da vítima, já sem vida, para uma região de mata. A ação ocorreu em um momento de ausência da Força Nacional de Segurança Pública, destacada desde junho para reforçar a segurança do local devido à escalada dos conflitos com ruralistas.

O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) informou ter contatado o governo estadual sul-mato-grossense para solicitar o afastamento imediato e a responsabilização do policial que efetuou os disparos, além de solicitar a abertura de investigação contra a corporação para a Polícia Federal. 

“O MPI manifesta seu profundo pesar e indignação por mais uma vida indígena perdida em ação daqueles que deveriam garantir sua segurança”, diz trecho da nota.

O caso aconteceu no imóvel “Fazenda Barra”, sobreposta à terra indígena. A área havia sido retomada pelos indígenas na última quinta-feira (12), quando ocorreu a primeira ação truculenta da polícia no local. 

Na ocasião, duas pessoas ficaram feridas por disparos de munição de borracha e uma por munição letal. Na noite após a operação, a 1ª Vara da Justiça Federal de Ponta Porã autorizou a atuação da polícia estadual em proteção à fazenda.

A área da Nhanderu Marangatu é de posse e usufruto exclusivo dos Guarani-Kaiowá 

desde 2002 e homologada por decreto presidencial há 19 anos, mas 

o processo de demarcação permanece congelado no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a responsabilidade do ministro Gilmar Mendes.

Proprietários da fazenda indicados para conciliação do Marco Temporal

As entidades também denunciaram uma possível ligação entre os donos do local onde Neri foi morto com as audiências conciliatórias do Marco Temporal no STF.

O comunicado informa que Roseli Ruiz, apontada como uma das proprietárias do imóvel, foi convocada para compor o grupo como “especialista” para discutir os direitos territoriais dos povos indígenas. A indicação teria sido feita pelo Republicanos e o Partido Liberal (PL). 

Dois outros assassinatos em condições semelhantes ocorreram no mesmo local em 2005 e 2015. O líder indígena Dorvalino Rocha foi assassinado por funcionários de uma empresa que atuava na segurança privada dos fazendeiros. Dez anos depois, Simeão Vilhalva foi morto por um grupo paramilitar em meio a conflitos com os ruralistas.

  • Verônica Serpa

    Graduanda de Jornalismo pela UNESP e caiçara do litoral norte de SP. Acredito na comunicação como forma de emancipação para populações tradicionais e marginalizadas. Apaixonada por fotografia, gastronomia e hip-hop.

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