Um jovem quilombola foi morto no Quilombo Rio dos Macacos, no município de Simões Filho, na Bahia, na noite da última terça-feira (25). Identificado como Pedro Henrique, a vítima foi encontrada desacordada com marcas de espancamento por volta da meia-noite às margens do rio pertencente à região. Moradores locais denunciam descaso no atendimento dos órgãos de serviço público no local, como o atraso da chegada da Polícia Militar, que só compareceu na manhã do dia seguinte.
Na última quarta-feira (26), a Associação dos Remanescentes do Quilombo Rio dos Macacos emitiu uma nota para lamentar e denunciar o ocorrido. Em texto, a organização afirma que a Polícia Militar esteve no local por duas vezes, ainda na madrugada, mas se recusou a entrar e ainda ofendeu os quilombolas que buscavam colaborar.
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Já o atendimento feito pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU) condicionou a chegada ao local apenas com a presença da PM. Entre os fatores usados como justificativa, estão a falta de visibilidade e a dificuldade de acesso ao território.
“O quilombo não tem acesso a iluminação pública e o direito de ir e vir, garantido constitucionalmente, é comprometido, tendo em vista que o acesso ao território se dá exclusivamente por uma estrada de chão batido monitorada e controlada pela Marinha. É urgente que os órgãos do Estado e Sistema de Justiça, assim como as demais instituições de proteção dos Direitos Humanos, garantam o acesso às políticas públicas, à segurança e aos direitos básicos da Comunidade”, aponta a Associação.
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Com mais de 200 anos de registro histórico, o Quilombo Rio dos Macacos só conseguiu a titulação de território no ano passado. Representantes locais acreditam que as condições atuais que a comunidade vive inviabilizam atividades básicas no cotidiano. Entre as causas, está a falta de manutenção para melhores condições da própria terra, um dos sinais do abandono do poder público denunciado.
O caso de violência contra a população tradicional não é o primeiro. De acordo com a associação, nos últimos anos foram registrados episódios de homicídio, violência física, sexual, psicológica, patrimonial e moral. Antes do falecimento de Pedro Henrique, em novembro de 2019, José Izidio Dias, conhecido como ‘seu Vermelho’, foi assassinado brutalmente, aos 89 anos, dentro de sua casa no quilombo e o caso também foi negligenciado pelas autoridades locais.
“Enquanto houver omissão institucional no cumprimento dos deveres públicos, todas as instituições são responsáveis por cada quilombola que tomba frente à resistência secular de nosso povo”, finaliza a associação.
Uma nota de repúdio à falta de auxílio e políticas públicas dedicadas à vida e sobrevivência dos povos quilombolas da região também está sendo escrita por membros da União de Negros pela Igualdade (UNEGRO) da Bahia e outras entidades que lutam pela causa racial. Ativistas e movimentos reivindicam nas redes sociais a apuração e responsabilização do jovem Pedro Henrique.
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