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Jovem quilombola é morto a pauladas no interior da Bahia

A vítima, identificada como Pedro Henrique, foi encontrada desacordada às margens do rio que cerca o Quilombo Rio dos Macacos; em nota, a associação de moradores locais denunciam atraso no socorro do jovem e e exigem políticas públicas para a melhorar o acesso à região

Texto: Victor Lacerda / Edição: Lenne Ferreira / Imagem: Reprodução/Quilombo Rio dos Macacos 

Jovem quilombola é morto a pauladas no interior da Bahia

Jovem quilombola é morto a pauladas no interior da Bahia

27 de maio de 2021

Um jovem quilombola foi morto no Quilombo Rio dos Macacos, no município de Simões Filho, na Bahia, na noite da última terça-feira (25). Identificado como Pedro Henrique, a vítima foi encontrada desacordada com marcas de espancamento por volta da meia-noite às margens do rio pertencente à região. Moradores locais denunciam descaso no atendimento dos órgãos de serviço público no local, como o atraso da chegada da Polícia Militar, que só compareceu na manhã do dia seguinte.

Na última quarta-feira (26), a Associação dos Remanescentes do Quilombo Rio dos Macacos emitiu uma nota para lamentar e denunciar o ocorrido. Em texto, a organização afirma que a Polícia Militar esteve no local por duas vezes, ainda na madrugada, mas se recusou a entrar e ainda ofendeu os quilombolas que buscavam colaborar.

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Já o atendimento feito pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU) condicionou a chegada ao local apenas com a presença da PM. Entre os fatores usados como justificativa, estão a falta de visibilidade e a dificuldade de acesso ao território.

“O quilombo não tem acesso a iluminação pública e o direito de ir e vir, garantido constitucionalmente, é comprometido, tendo em vista que o acesso ao território se dá exclusivamente por uma estrada de chão batido monitorada e controlada pela Marinha. É urgente que os órgãos do Estado e Sistema de Justiça, assim como as demais instituições de proteção dos Direitos Humanos, garantam o acesso às políticas públicas, à segurança e aos direitos básicos da Comunidade”, aponta a Associação. 

Leia também: Comunidades quilombolas travam luta contra desapropriação no Piauí

Com mais de 200 anos de registro histórico, o Quilombo Rio dos Macacos só conseguiu a titulação de território no ano passado. Representantes locais acreditam que as condições atuais que a comunidade vive inviabilizam atividades básicas no cotidiano. Entre as causas, está a falta de  manutenção para melhores condições da própria terra, um dos sinais do abandono do poder público denunciado.

O caso de violência contra a população tradicional não é o primeiro. De acordo com a associação, nos últimos anos foram registrados episódios de homicídio, violência física, sexual, psicológica, patrimonial e moral. Antes do falecimento de Pedro Henrique, em novembro de 2019, José Izidio Dias, conhecido como ‘seu Vermelho’, foi assassinado brutalmente, aos 89 anos, dentro de sua casa no quilombo e o caso também foi negligenciado pelas autoridades locais. 

“Enquanto houver omissão institucional no cumprimento dos deveres públicos, todas as instituições são responsáveis por cada quilombola que tomba frente à resistência secular de nosso povo”, finaliza a associação. 

Uma nota de repúdio à falta de auxílio e políticas públicas dedicadas à vida e sobrevivência dos povos quilombolas da região também está sendo escrita por membros da União de Negros pela Igualdade (UNEGRO) da Bahia e outras entidades que lutam pela causa racial. Ativistas e movimentos reivindicam nas redes sociais a apuração e responsabilização do jovem Pedro Henrique.

Leia também: Quilombo vivo: Memórias de luta na Serra da Barriga

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