Uma mãe usou as redes sociais para denunciar um caso de racismo ocorrido contra sua filha na escola particular Centro Educacional Barão de Lucena, em Mesquita, no Rio de Janeiro (RJ).
Segundo o relato feito por Lais Rodrigues em um vídeo publicado nas redes sociais na terça-feira (26), a criança de nove anos foi chamada de “macaca” por uma professora durante uma aula no dia 12 de setembro. A filha contou para a mãe que estava desconfortável na cadeira da sala quando resolveu trocar de lugar. Nesse momento, a professora teria dito que ela parecia uma macaca por estar “pulando de galho em galho”.
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Lais considera que a atitude da professora foi racista porque ela poderia ter utilizado outros termos para se dirigir à criança. “Eu não acho correto até porque esse não é o posicionamento de um professor. Teria várias maneiras dela falar com a minha filha: ‘olha, se comporta’, ‘escolhe uma cadeira e senta’ ou até mesmo ter chamado a direção, ter me comunicado e eu teria ido na escola na mesma hora para tentar resolver isso”, afirma, em enttevista à Alma Preta.
Lais conta que também entrou em contato com os responsáveis pelas outras crianças que estudam na mesma sala de aula que a filha, que confirmaram o ocorrido e relataram casos semelhantes.
“Tem muita gente defendendo ela [a professora], dizendo que não foi por esse lado [do racismo], que ela não falou com maldade, só que as minhas filhas são negras e o mundo em que a gente vive hoje a criança sofre bullying. Por mais que não fosse na maldade, as outras crianças poderiam depois ficar fazendo piada e isso para a criança gera um peso muito grande como gerou”, desabafa.
Ainda no vídeo, de quase seis minutos, a mãe relata que sua outra filha dela, de sete anos, estudava na mesma turma da irmã e presenciou todo o ocorrido. Enquanto a mãe relata o que aconteceu, em determinado momento do vídeo a criança abaixa o rosto e chora. “Fazer um tratamento psicológico para duas crianças é caro. É 120 reais 30 minutos. Como eu vou arcar esses danos psicológicos às minhas filhas?”, questiona Lais.
Após a situação, as irmãs foram transferidas para outra escola.
Escola não pediu desculpas e mãe teria sido chamada de ‘estourada’
No dia seguinte ao ocorrido, Lais foi à diretoria da escola para relatar o que aconteceu e cobrar explicações da professora. À reportagem, ela diz que foi informada pela diretora que deu três dias de descanso para a professora e não poderia realizar uma reunião com ela para falar sobre o ocorrido. Para ela, a instituição fez “pouco caso” da situação e até hoje não houve um pedido de desculpas pelo ocorrido.
“Em nenhum momento eles quiseram marcar reunião, muito pelo contrário, a diretora falou que não poderia fazer isso porque eu era uma pessoa estourada”, detalha Lais.
Em nota, o Centro Educacional Barão de Lucena informou que o advogado da instituição propôs acompanhamento psicológico para as crianças, mas a responsável teria negado. “Quando somos acusados de negligenciar a saúde mental de uma criança e não prover assistência necessária durante seu cotidiano, estamos sendo encarados de forma contrária à tudo aquilo que acreditamos enquanto mais um veículo de mudança na Educação”, diz um trecho da nota publicada na quinta-feira (28) nas redes sociais da instituição.
Segundo Lais, ela recusou a assistência psicológica oferecida pela escola porque o tratamento deveria ser feito em uma clínica especializada.
“Eles queriam que eu fizesse psicólogo com a minha filha com um psicólogo deles. Eu falei ‘não, não é assim. Vocês querem realmente arcar com um tratamento psicológico para a minha filha, vocês vão em uma clínica especializada. Minha filha pode fazer o tratamento, sim, em uma clínica especializada, não com uma pessoa que vocês querem’ até porque a gente nem sabe se essa própria pessoa é uma pessoa especializada”, argumenta.
Posicionamento
Em nota publicada nas redes sociais, o Centro Educacional Barão de Lucena diz que houve “incoerências” diante da denúncia que “não representam nossa posição enquanto instituição educacional, nem muito menos com a responsável envolvida durante o decorrer dos fatos declarados pela mesma”.
No decorrer do comunicado, a instituição diz que atendeu a mãe, junto com a aluna, e o relato foi registrado em uma ata de atendimento. A escola diz também que não pôde realizar atendimento individualizado com a criança já que a mãe solicitou o documento de transferência que, segundo a escola, “imediatamente emitimos e entregamos”.
Em seguida, o Centro Educacional aponta que conversou com a mãe que a aluna poderia permanecer na escola para realizar as avaliações do terceiro bimestre em turno posterior mediadas por outro profissional para que ela não fosse prejudicada no processo escolar. A escola diz também que não recebeu nenhum outro relato semelhante que teria ocorrido na instituição.
A instituição alega também ser falsa a informação de que a professora denunciada pela mãe recebeu três dias de descanso e diz que a docente apresentou um atestado de três dias de licença médica após ser informada que deveria comparecer à Delegacia de Polícia.
“É FALSA também a afirmação que a profissional continua trabalhando. Na última semana, os alunos do Ensino Fundamental 1 estavam em avaliação e a professora retornou após seus dias de licença médica para finalizar o Bimestre, sendo dispensada no término do mesmo e antes da divulgação e conhecimento do vídeo publicado pela responsável”, afirma um trecho da nota.
A Alma Preta Jornalismo buscou contato com o Centro Educacional Barão de Lucena para questionar se o motivo da dispensa da professora foi motivado pela denúncia. No entanto, não tivemos retorno até o fechamento da reportagem.
No perfil do Instagram da escola, o Centro Educacional Barão de Lucena destaca que tem mais de 40 anos de funcionamento e atende alunos do Ensino Fundamental I e II, além do Ensino Médio. Conforme informações cadastrais da empresa, um dos sócios é o vice-prefeito de Mesquita, Ricardo Loyola de Souza. Apesar de Laís vincular a escola com o vice-prefeito e o vereador de Mesquita, ela não menciona nomes no vídeo.
Em nota, a escola classificou a alegação dela como “falsa” e disse que o vereador Bruno Lucena não tem relação com a escola, mas o vice-prefeito, sim. “É maldosa e premeditada a associação feita pela responsável, envolvendo uma pauta social tão séria”, diz a nota.
Sobre a acusação de racismo, a instituição alega que realiza debates com os alunos e que está previsto um projeto, planejado desde o final de 2022, em homenagem às mulheres negras na literatura.
Por fim, o Centro Educacional Barão de Lucena diz que irá tomar medidas cabíveis “em relação a (sic) injúria, calúnia e difamação com o nome da instituição e dos citados pela responsável da aluna”.