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Maioria das escolas privadas de alto desempenho tem menos de 10% de alunos negros

Para o responsável pelo estudo, dr. Luiz Augusto Campos, as cotas raciais no ensino básico podem ser consideradas uma medida de inclusão para alunos negros nesses espaços privados, mas não a única solução

Texto: Caroline Nunes | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Reprodução/ Associação Nova Escola

A imagem mostra uma sala de aula com adolescentes negros e brancos

8 de junho de 2021

Um estudo baseado no Censo Escolar de 2020 constatou que os alunos negros correspondem, em média, a 10% do corpo estudantil das insituições privadas de ensino. A pesquisa, elaborada pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA), afirma também que quanto mais cara e melhor colocada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é a escola, menor é o percentual de pretos e pardos em seu interior.

Embora grande parte das escolas não tenha dados de raça e cor de todos seus alunos, as informações daquelas que responderam à questão demonstram alto índice de desigualdade racial nesses espaços. Para o doutor em Sociologia Luiz Augusto Campos, o sistema de cotas seria uma opção possível para diminuir essa diferença de alunos brancos e negros nas instituições de ensino privado, mas não é a solução total para o problema.

“O sistema de cotas pode ser visto como uma forma de mitigar o efeito que as escolas privadas majoritariamente brancas têm na distribuição desigual de oportunidades no Brasil, mas é uma medida com efeitos limitados, como ocorre nas universidades públicas, em que apenas um terço das matrículas é reservado para essas pessoas”, destaca o também pesquisador responsável pelo estudo e vice-coordenador do GEMAA.

Luiz Augusto salienta que o ideal é que essa inclusão parta de uma lei, que garanta o acesso desses estudantes nos espaços privados de ensino. O pesquisador pontua que se houvesse legislação pertinente ao assunto, a responsabilidade de distribuição de alunos negros seria da diretoria de cada escola.

Dados sobre alunos negros nas instituições de ensino privado

A pesquisa levantou informações das 20 escolas que tiveram o melhor desempenho no Enem 2019 em todo o país. Dentre elas, uma não computou a variável raça/cor do Censo Escolar, que é o Instituto Dom Barreto do Piauí. Outras três escolas apresentaram alta taxa de não resposta sobre raça/cor de seus estudantes, como no caso do Colégio Pirâmide de São Paulo (85%), Colégio Farias Brito de Aplicação (65%) e o Colégio Ari de Sá Cavalcante (58%), ambos no Ceará.

Já o Colégio Catamarã, em São Paulo, registrou 0% de pretos e pardos e 81% de brancos. Dos restantes, apenas três instituições tiveram 20% ou mais de alunos pretos e pardos registrados.

“Esse nível de segregação se repete nas duas principais capitais brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro. Dentre as dez escolas privadas de mais alto desempenho da capital fluminense, apenas uma apresenta mais de 20% de alunos negros ou pardos: o Colégio Técnico Nossa Senhora das Graças, com 30%”, diz o estudo.

Na capital paulista, nenhum dos dez colégios com melhor desempenho no Enem 2019 registrou mais de 20% de alunos pretos ou pardos. O estudo ainda aponta que a maior parte dessas escolas oscilou entre 1% e 7% de alunos negros, tendo a escola Orlando Garcia da Silveira registrado mais de 91% dos alunos brancos.

Resultados e soluções para o futuro

O estudo elaborado pelo GEMAA destaca que a alta taxa de não resposta à questão de raça e cor impede uma análise mais aprofundada sobre o tema. Apesar da ausência de dados, a pesquisa afirma que, como resultado, foi possível constatar o descaso com que tais instituições de ensino tratam a temática racial e que é fundamental estar atento sobre em que local o aluno negro é colocado no futuro perante os estudantes brancos.

“Não pode ser natural que a elite brasileira se forme desde a infância em espaços onde não há negros como pares, mas apenas como subalternos”, diz a pesquisa.

Para o pesquisador responsável, algumas medidas a curto, médio e longo prazo podem ser adotadas no intuito de uma educação mais igualitária. Luiz Augusto destaca a distribuição de alunos negros nas turmas das escolas privadas, pois, de acordo com ele, “muitas escolas, de forma racista, podem isolar esses alunos deliberadamente, o que corrobora com o discurso preconceituoso”, aponta.

Leia também: ‘Livro aborda perfil racista da mobilidade urbana no Brasil’

O doutor em Sociologia finaliza incentivando o ensino da história da África como fundamental para mudar o pensamento crítico que estudantes brancos têm de alunos negros e pardos. Luiz Augusto também salienta a importância do corpo docente diverso, para que haja representatividade negra também entre os professores, o que fortalece o debate antirracista. “Que o racismo e a desigualdade racial entrem nas discussões pedagógicas dentro da escola, em todas as matérias para modificar o pensamento”, conclui.

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