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‘Militarização trouxe censura e violência para as favelas do Rio de Janeiro’, diz ativista

29 de julho de 2020

Mortes por intervenção das forças de segurança aumentaram 57% nos últimos cinco anos, em comparação com o período de implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) em comunidades como a Favela da Maré

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Movimento das Favelas do Rio

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As políticas de segurança pública adotadas pelo governo do estado do Rio de Janeiro, que são baseadas na militarização, geraram um grande número de violências e violações de direitos nas favelas. É o que explica a ativista Gizele Martins, autora do livro “Militarização e Censura, Liberdade de Expressão na Favela da Maré”.

“É o controle das nossas vidas, das nossas vozes e da nossa cultura. É uma política de violência e de racismo. Com o desaparecimento forçado, com os autos de resistência e com a polícia que invade os barracos para matar e roubar a gente. A cada ano, aumentam os casos de assassinatos causados por polícias e o judiciário não faz nada. A sociedade apoia o genocídio da população negra”, afirma.

A presença do Exército ou da Polícia nas favelas, que aumentou desde as realizações dos megaeventos da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e das Olimpíadas, em 2016, não teve quase nenhum reflexo na redução da criminalidade.

“Em 2014, o Exército colocou tanques nas portas dos barracos na Maré. Fechou rádios comunitárias, prendeu jovens negros, prendeu os comunicadores da favela, censurando a nossa cultura. Isso também aconteceu em outras favelas onde foram instaladas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora)”, recorda Gisele, que também integra o movimento de Favelas do Rio de Janeiro.

A primeira UPP foi instalada na capital fluminense em 2008, no morro de Dona Marta, em Botafogo, Zona Sul da cidade. Nos cinco anos seguintes, entre 2009 e 2013, as forças policiais mataram 1.566 pessoas em todo o estado. Além disso, de 2015 a 2019, as mortes por intervenção policial no Rio somaram 2.459 vítimas. Uma alta de 57%.
Somente em 2019, a polícia matou 732 pessoas, em 2018 foram 614 mortes. Há dez anos, em 2010, as mortes por intervenção policial somaram 431 casos no Rio, de acordo com o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ).

O crescimento da violência nas favelas com a militarização deu origem aos movimentos organizados contra a repressão. “A luta do movimento das favelas é pela libertação do seu território. São mães e familiares de vítimas que estão pautando os impactos disso nos corpos que são negros, nordestinos e muitos indígenas também”, detalha Gisele.

Os protestos das organizações de favelas fazem parte da agenda do “Julho Negro”, que discute o fim do apartheid no mundo, o comércio de armas, a militarização das polícias e o racismo estrutural. “É uma luta histórica dentro e fora das favelas”, comenta a ativista.

O Alma Preta procurou a Secretaria Estadual da Polícia Militar do Rio de Janeiro, no entanto, até a publicação deste texto, a pasta não quis comentar o aumento das mortes por intervenção das forças de segurança na última década.

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