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Motoristas e cobradores de ônibus de SP trabalham com pânico de contaminação pela Covid-19

25 de setembro de 2020

Em 137 dias, as mortes de trabalhadores do transporte público da maior cidade do país saltaram de 15 para 74; por semana são 46 casos confirmados ou suspeitos de infecção pelo novo coronavírus

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Ricardo Moreyra/O Globo

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O Sindimotoristas, sindicato que representa os motoristas e cobradores do transporte rodoviário da cidade de São Paulo, contabilizou até o dia 31 de agosto a morte de 74 profissionais da categoria por Covid-19, o novo coronavírus. O número representa uma alta de 39,3% na comparação com as 15 mortes identificadas em 16 de abril.

O levantamento é feito com base nos dados do sindicato e nos relatórios oficiais do sistema de saúde. No mesmo período, os casos confirmados de Covid-19 entre motoristas e cobradores de ônibus subiu de 27 para 302, uma elevação de 1.018% em pouco mais de 100 dias. Já os casos suspeitos, que estavam em 175 em abril, chegaram a 819 no final de agosto.

A cada semana, a média é de 46 casos suspeitos ou confirmados de Covid-19 entre os trabalhadores do sistema de transporte de ônibus na capital paulista. O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, defende que seja melhorada a testagem entre os profissionais e que é preciso uma interlocução maior com o governo municipal.

“Muitos morreram por falta de políticas públicas governamentais, mas essa categoria é forte e muito importante para todos nós. Precisamos de mais testagem enquanto não temos a vacina, precisamos evitar as aglomerações para proteger a saúde de cobradores e motoristas. Neste momento grave, eles são verdadeiros guerreiros”, afirma Patah.

De acordo com o sindicato, existe um sentimento de pânico entre os trabalhadores desde abril. A cidade tem cerca de 14 mil ônibus que transportam aproximadamente 4 milhões de pessoas diariamente. Na pandemia, segundo o sindicato, a quantidade de passageiros não diminuiu significativamente e os coletivos estão lotados. Ao todo são cerca de 55 mil trabalhadores no sistema de transporte.

“É uma categoria muito exposta que trabalha 24 horas por dia. Foram feitas frentes de trabalho e todo o esforço possível do sindicato para conscientizar a categoria sobre o risco. Algumas garagens têm álcool, outras não se preocupam tanto. É uma doença invisível e a gente não sabe quando vai ser contaminado”, relata Valmir Santana da Paz, o Sorriso, presidente interino do sindicato.

Segundo Sorriso, desde o começo da pandemia o sindicato tem pedido providências para a SPTrans e para as empresas. “Quem mais faz esforços para tentar se precaver é a própria categoria, algumas empresas adotaram a cortina cabana, mas é o trabalhador que se conscientizou através da orientação do sindicato. Então se protege com a máscara, com o álcool em gel e com um certo distanciamento dentro do possível. Se não fosse isso, seria muito maior o número de mortes e de contaminações na categoria”, explica o presidente interino.

Mortes por região

Ainda de acordo com o sindicato, os dados por região mostram que os motoristas e cobradores da zona leste são os mais afetados pela pandemia. Até o final de agosto, foram 92 casos confirmados e 24 mortes. Nas zonas sul e oeste, foram 21 mortes de trabalhadores da categoria.

Dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), compilados pelo Boletim “Curva das Periferias”, dos portais Alma Preta e Nós, Mulheres da Periferia, mostram que o distrito de Sapopemba, na zona leste, com 999 infectados até o fim de julho, era um dos distritos da capital paulista com maior concentração de casos do novo coronavírus. Mais de 40% da população do bairro é formada por pessoas declaradas como pretas ou pardas.

Outro lado

O Alma Preta entrou em contato com a SPUrbanuss, entidade que representa os donos das empresas de ônibus de São Paulo. A assessoria de imprensa informou que as perguntas em relação aos trabalhadores deveriam ser direcionadas à SPTrans, órgão público responsável pelo setor de transporte da cidade.
Procurada, a SPTrans informou que as perguntas da reportagem deveriam ser enviadas via lei de acesso à informação com previsão de resposta até o dia 14 de outubro.

Ao jornal Agora São Paulo, em reportagem publicada no dia 15 de setembro, o órgão disse que, desde o início da quarentena, “adotou uma série de medidas para que motoristas, cobradores e passageiros do sistema de transporte público da capital se previnam contra o novo coronavírus”. Segundo a SPTrans, foram implementadas medidas como higienização dos ônibus e obrigatoriedade no uso de máscaras de proteção.

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