Um vídeo que circula nas redes sociais mostra a cabeleireira Karen Lima, desabrigada há 10 dias devido às enchentes no Rio Grande do Sul, sendo vítima de injúria racial. No registro, Karen discute com um homem branco que tentou expulsá-la de uma área próxima ao Viaduto da Cairú, em Porto Alegre, onde ela auxiliava no resgate de animais.
“No dia do caso eu estava há 48 horas em cima do Viaduto da Cairú. Estávamos resgatando só os pets, não tinha mais ninguém para resgatar”, disse Karen em entrevista à Alma Preta. Ao retornar ao local de acolhimento para descansar, a moradora da Vila Farrapos foi surpreendida pela abordagem do homem, que aparece no vídeo questionando sua presença e a de seu amigo Lucas, que a ajudava nos resgates.
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Karen relatou que, enquanto conversava com Lucas sobre a situação de fome e sede das pessoas desabrigadas, o homem perguntou o que estavam fazendo ali. Ao tentar explicar, ela foi interrompida com a ordem de que saíssem do local, pois estariam “poluindo o ambiente, jogados no chão”. Mesmo após explicar que estavam apenas descansando e iriam para a casa de uma tia em breve, o homem insistiu que pareciam “mendigos”.
“Quando ele disse isso eu fiquei bem chateada, porque não somos mendigos, nós estamos desabrigados contra a nossa vontade”, afirmou Karen. O homem ainda sugeriu que ela fosse descansar em casa, ao que Karen respondeu emocionada: “Senhor, eu adoraria descansar em minha casa, eu adoraria estar trabalhando, como faço há 12 anos, mas infelizmente isso não é possível”.
A partir deste momento, uma testemunha começou a gravar o episódio, e Karen, revoltada, afirmou que “pobre e preto não tem vez”. No vídeo, a mãe de um filho autista de oito anos e uma filha adolescente de 18 denuncia que outras pessoas pretas e periféricas também estavam sendo vítimas de preconceito em alguns abrigos destinados às vítimas das enchentes.
Em entrevista ao Brasil 247, Karen afirmou que pessoas pretas estavam preferindo se abrigar nos viadutos a enfrentar humilhações e suspeições nos abrigos, onde deveriam ser acolhidas com dignidade e afeto.