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‘Mulheres como você precisam ser fortes’, diz psiquiatra da Unifesp à paciente negra

A estudante de geografia Thayná Alexandrino (24) buscou ajuda na unidade de atendimento gratuito da universidade e relata descaso da profissional que a atendeu: "na visão dela, uma mulher negra não poderia sofrer", diz

Texto: Letícia Fialho | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Reprodução 

 

Estudante da Unifesp sofreu discriminação

4 de outubro de 2021

A estudante de geografia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Thayná Alexandrino (24), buscou ajuda psiquiátrica na unidade de atendimento gratuito oferecida pela instituição aos alunos, há cerca de um mês. A jovem relata ter sido julgada pela sua aparência física no atendimento, quando ouviu da profissional que a atendeu: “você não tem cara de paciente psiquiátrica. Mulheres como você precisam ser fortes”. 

“Ingressei na universidade e tive a oportunidade de cuidar da minha saúde através dos serviços gratuitos oferecidos por eles. Contudo, ao chegar lá, me deparei com algo totalmente diferente do que esperava. Fui mal tratada pela psiquiatra, que me julgou do começo ao fim”, relata Thayná. 

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A estudante conta que há tempos percebe alguns sintomas associados à depressão e ansiedade e que, por conta dos estigmas relacionados a doenças mentais, demorou a procurar ajuda. Durante a pandemia, ela perdeu pessoas próximas e se sentiu fragilizada para lidar com o luto. 

“Mesmo contando para ela sobre o luto pelo qual estou passando, sobre meu histórico familiar e pré-disposições, escutei a pior justificativa ‘você está muito bem vestida para ter algum problema de ordem mental’ e também que ‘não pode se dar ao luxo de ser fraca’”, relata a vítima que desistiu do atendimento quando a profissional disse: “Mulheres como você sabem lidar muito bem com a dor”. 

A estudante conta que sentiu-se impotente e negligenciada no atendimento prestado pela unidade de atendimento da universidade. Segundo ela, a profissional que a atendeu era uma mulher branca, na faixa etária dos 40 anos, com bagagem profissional e acadêmica. 

“Parece que a única alternativa sugerida por profissionais brancos é que nós, mulheres negras, precisamos ser fortes o tempo todo. Pessoalmente, na visão dela, eu não poderia sofrer. Lembro que na minha infância uma professora disse que a vida seria dura pra quem fosse fraco. E agora ouvi quase a mesma coisa, vindo de uma profissional de saúde mental”, reflete Thayná. 

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Insegurança 

Em busca de atendimento adequado, a estudante recorreu a um psicólogo, seguindo orientação médica, em outra unidade de atendimento. E novamente teve uma abordagem pouco acolhedora. 

“Quando relatei sobre o episódio em que fui vítima de racismo. Fui surpreendida com a colocação de mais um profissional branco. Ele disse que eu não era negra e, sim, ‘mulata’, em vista de outros pacientes negros que ele atende. Até quando um cara branco pode julgar a negritude de outras pessoas?”, conta. 

A estudante diz que, até o momento, não recorreu a nenhum outro profissional por conta dos valores altos e por sentir-se insegura. “Eu adoro a área da saúde e ser atendida por profissionais que não tiveram a sensibilidade de olhar para a minha dor, me toca bastante. Outra coisa é a falta de representatividade. O fato de não ter pessoas negras inseridas nesses espaços, perpetua o racismo estrutural”, reitera a Thayná. 

Posicionamento

Alma Preta Jornalismo entrou em contato com a Unifesp para solicitar um posicionamento sobre o caso. Em nota, a instituição afirma que “tem trabalhado para promover equidade étnico-racial e combater o racismo” e que, ao tomar conhecimento do relatado na matéria, a Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Prae/Unifesp) entrou em contato com a estudante, que confirmou a situação. Segundo a assessoria de imprensa, a estudante será acolhida e a Unifesp abrirá procedimentos para verificação da denúncia.

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