Intelectual e símbolo da cultura negra no Brasil, a Rainha Kambinda faleceu no domingo (15); sua trajetória cultural a levou a dar aulas em universidades de renome no Brasil
Texto / Amauri Eugênio Jr.
Imagem / Fora do Eixo
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A Rainha Kambinda não está mais entre nós e deixou todos nós órfãos de sua sabedoria e energia. A escritora, folclorista, artista plástica e guardiã do conhecimento artístico e cultural no Brasil Raquel Trindade faleceu aos 81 anos no domingo (15).
Filha do poeta Solano Trindade, a intelectual seguiu os passos do pai e fez de Embu das Artes, cidade situada a menos de 30 km de São Paulo, reduto e o ponto de partida para propagar a sua arte para longe – muito além da capital paulista, inclusive. O Brasil tornou-se ateliê, palco e base para a criação da obra literária.
Ao lado de seu pai, no início dos anos 1950, ela fundou o TPB (Teatro Popular Brasileiro). Após a morte de Solano, o “poeta do povo”, ela criou o Teatro Popular Solano Trindade em sua homenagem.
O legado
Mais do que o entusiasmo com o qual sempre lidou com o conhecimento e a criação artística, Raquel Trindade foi – e sempre será – uma figura inspiradora para ativistas culturais e para a preservação da cultura afro-brasileira.
Se o seu conhecimento e sabedoria serviram como fontes de inspiração para diversos artistas, a sua dedicação e amor pela cultura afro-brasileira foram – e serão – vetores para o ativismo artístico em Embu das Artes, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, sua cidade natal, e em todas as regiões do Brasil.
Coincidência ou não, ela tornou-se professora na Unicamp e na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), onde foi responsável pela criação do curso de extensão Identidade Cultural Afro-Brasileira. Além disso, foi fundadora também da Nação Kambinda de Maracatu.
Pelo conjunto da obra, Rainha Kambinda recebeu, em 2007, a Ordem do Mérito Cultural da República, concedida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No entanto, ordens de méritos, láureas e títulos de cátedras não dão a dimensão da vida e da obra de Raquel Trindade. Mais do que ser intelectual, ela mostrou que o povo afro-brasileiro pode – e deve – ter orgulho de sua ancestralidade e de sua produção cultural. Mais do que isso: tem todo o direito de resistir e combater o racismo, inclusive em âmbito cultural.
Raquel Trindade pode não estar mais presente entre nós. Mas o seu legado estará eternamente por aqui.