O fundador e diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, se posicionou sobre o caso de racismo sofrido pelo jogador Luighi Hanri, atacante do Palmeiras, durante a partida contra o Cerro Porteño, válida pela Copa Libertadores Sub-20.
O episódio de racismo ocorrido no Paraguai gerou repercussão internacional. Durante o jogo na quinta (6), um torcedor do Cerro Porteño imitou um macaco na direção do atacante Luighi, que ficou visivelmente abalado.
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Em entrevista à Alma Preta, Carvalho destacou a importância de punições mais eficazes para combater a prática no esporte. Segundo o profissional, a Conmebol, que organiza a competição, tem regulamentos mais rígidos para casos de racismo, incluindo multas e punições como a interdição de setores dos estádios, mas as medidas não têm sido eficazes.
“A punição pecuniária, ou seja, a multa financeira, não tem sido eficaz na luta contra o racismo”, comentou. Carvalho propõe que punições mais severas sejam aplicadas para coibir a reincidência de atos racistas no futebol.
Conscientização no futebol é fundamental
Além de mudanças nas punições, o fundador do observatório destacou a importância da conscientização dos torcedores, uma vez que o racismo é tratado de forma diferente em diversos países da América Latina. “Em outros países, o racismo não é visto com a mesma gravidade que no Brasil, e isso precisa ser abordado de maneira mais eficaz”, afirmou.
A Conmebol, segundo o especialista, também precisa refletir sobre como atuar diante de casos recorrentes de discriminação racial nos estádios.
O diretor do observatório também chamou atenção para a mudança de postura dos jogadores, que, atualmente, denunciam mais frequentemente episódios de racismo. Contudo, ele lamentou a falta de responsabilização dos torcedores racistas.
“Os torcedores sentem uma sensação de impunidade, e isso reforça o ciclo de discriminação”, disse Carvalho. A mobilização dentro e fora de campo, para ele, precisa ser acompanhada por ações que envolvam clubes, autoridades e a sociedade como um todo.
Papel da mídia e dos clubes de futebol
Para Carvalho, a mídia tem um papel fundamental na luta contra o racismo no futebol, ao questionar os clubes e suas ações frente a esse tipo de incidente. Ele também alertou para a importância de cobrar medidas concretas para prevenir e punir o racismo, ressaltando que a responsabilidade não pode ser apenas delegada às autoridades. “O torcedor precisa agir, denunciar e não deixar impune o ato racista dentro dos estádios”, afirmou.
O especialista também criticou a abordagem de alguns jornalistas, que minimizam ou até justificam atos racistas. “É necessário que a mídia trate o racismo com a seriedade necessária, sem banalizar o problema”, destacou.
Ministério do Esporte e reações internacionais
O Ministério do Esporte do Brasil se manifestou sobre o episódio, expressando sua indignação e repúdio aos atos de racismo sofridos pelos jogadores do Palmeiras. Em nota, o ministério anunciou que exigirá uma investigação rigorosa e a aplicação de sanções contra os responsáveis.
Jogadores como Vini Jr., do Real Madrid, também se posicionaram publicamente, apoiando Luighi e cobrando atitudes mais efetivas da Conmebol. “Até quando, Conmebol? Vocês nunca fazem nada”, questionou o atacante brasileiro, após manifestar solidariedade ao colega de profissão.
Palmeiras irá ‘até as últimas instâncias’ por punição
A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, anunciou nesta sexta-feira (7) que solicitará a exclusão do Cerro Porteño da Libertadores Sub-20. “Vamos requisitar a exclusão do Cerro Porteño da competição. Porque não é a primeira vez que esse clube ataca nossos atletas, nossos torcedores”, afirmou Leila.
A dirigente também criticou a postura do árbitro da partida, que não interrompeu o jogo no momento da agressão. “Ele não cumpriu com uma determinação da Fifa”, disse.