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Oficiais e cabo da PM viram réus por assassinato de jovem negro e cego na Operação Verão

Justiça aceita denúncia contra militares por homicídios cometidos em ações policiais que deixaram mais de cem mortos entre 2023 e 2024
Imagem de militares durante a Operação Verão, em fevereiro de 2024, na Baixada Santista, litoral de São Paulo. Nesta semana, o Tribunal de Justiça de São Paulo tornou réus um major, um capitão e um cabo da polícia militar por envolvimento na morte de jovem negro e cego.

Imagem de militares durante a Operação Verão, em fevereiro de 2024, na Baixada Santista, litoral de São Paulo. Nesta semana, o Tribunal de Justiça de São Paulo tornou réus um major, um capitão e um cabo da polícia militar por envolvimento na morte de jovem negro e cego.

— Reprodução/Agência Brasil

5 de fevereiro de 2025

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) aceitou as denúncias contra um major, um capitão e um cabo da Polícia Militar por homicídios cometidos durante a Operação Verão na Baixada Santista. A ação das forças de segurança do governo estadual, que incluiu também a Operação Escudo, resultou em mais de 100 mortes entre julho de 2023 e abril de 2024.

Um dos casos envolve Hildebrando Simão Neto, jovem negro e cego, que foi morto com tiros à queima-roupa pelo capitão Tiago Morato Maciel e pelo cabo Nielson Barbosa Medeiros, ambos da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). Hildebrando não estava armado e foi baleado sem entender o que acontecia.

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Além dele, o entregador de colchões Davi Gonçalves Junior também foi executado pelos policiais, que teriam cometido o crime para eliminar uma testemunha. O assassinato ocorreu em 7 de fevereiro de 2024, na cidade de São Vicente.

Execuções ligadas à morte de policial da Rota

As investigações apontaram que os PMs buscavam Kaique Coutinho do Nascimento, o “Chip”, suspeito de assassinar o soldado Samuel Wesley Cosmo, também da Rota, cinco dias antes. A namorada de Chip, que morava anteriormente na casa de Hildebrando, foi usada como referência pelos agentes. No entanto, ao chegarem ao local e não encontrarem o alvo, os policiais mataram Hildebrando e Davi.

A denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) acusa o capitão e o cabo de homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e pelo uso de recurso que impossibilitou a defesa das vítimas. Os agentes ainda alteraram a cena do crime e obstruíram câmeras corporais, alegando que seus equipamentos estavam sem bateria.

Além da simulação de um confronto inexistente dentro da casa, imagens de câmeras de outros policiais captaram a reação da mãe de Hildebrando, que se revoltou ao perceber a manipulação da cena do crime.

Denúncias aceitas e investigações em andamento

No caso do major denunciado, a Justiça aceitou a acusação em 28 de janeiro, relacionada a um homicídio cometido na cidade de Santos. O MPSP desmontou a versão apresentada pelo oficial de que a vítima estaria armada. Já no caso do capitão e do cabo da Rota, a aceitação da denúncia ocorreu na última terça-feira (4), envolvendo os assassinatos em São Vicente.

O Ministério Público destacou em nota que os policiais forjaram provas, simulando que as vítimas portavam armas, além de desativarem câmeras operacionais para impedir registros da ocorrência.

Impacto da Operação Verão e perfil das vítimas

Encerrada em abril de 2024, a Operação Verão resultou em 56 mortes, incluindo uma pessoa cega, uma pessoa com mobilidade reduzida e uma mãe de seis filhos, todos mortos pela PM.


Um levantamento da Alma Preta revelou que, somente em janeiro de 2024, 20 pessoas foram mortas em ações da polícia na Baixada Santista, sendo 17 delas negras (pretas ou pardas).

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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