A presença de mulheres negras no setor de tecnologia cresceu 14,9% entre 2022 e 2023, com a contratação de mais de 135 mil profissionais com esse perfil na área, de acordo com dados da Brasscom, Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais.
Ainda assim, pessoas negras ainda são minoria entre as lideranças do setor. É o que aponta o Panorama da Liderança Tech no Brasil 2023/2024, da Strides Tech Community.
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Com iniciativa pioneira na América Latina, a Fly Educação, ONG que capacita pessoas em vulnerabilidade social com ferramentas de inteligência socioemocional, tecnologia social e empreendedorismo, desenvolveu a primeira turma dedicada a mulheres negras com capacitação em Gestão Tech e Inteligência Artificial (IA).
A ideia nasceu da própria experiência de Alejandra Yacovodonato, fundadora e diretora executiva da Fly Educação, que, ao buscar por uma profissional negra atuante da área de Tech Lead, não a encontrou no mercado. “Essa ausência de mulheres negras nas áreas de inovação tecnológica é um reflexo da desigualdade”, afirma.
“Quando falamos em acesso à IA, cerca de 90% das patentes relacionadas a essa área estão concentradas nos EUA e China. Democratizar o acesso a essa tecnologia, bem como preparar mulheres negras para estarem nessa frente enquanto liderança significa garantir que elas tenham acesso aos seus benefícios e oportunidades”.
A primeira turma do “Mulheres in Tech versão Pretas: IA & Gestão”, composta por cerca de 30 alunas, foi formada em outubro e contou com o apoio da edtech Alura, maior ecossistema de educação em tecnologia, e do Instituto Syn, área social do Grupo SYN, que promove projetos e ações de responsabilidade social focados em quatro pilares de atuação: Empregabilidade, Empreendedorismo, Relacionamento & Cultura, e Voluntariado.
Por e para pessoas negras
O curso teve como diferencial a presença de mulheres negras em todas as etapas – professoras, mentoras e palestrantes convidadas.
Formada em jornalismo e mestre em Relações Étnico Raciais, a carioca Beatriz Carvalho, de 31 anos, se define como apaixonada por desafios. Atualmente, ocupa cargo de gestão na área comercial e viu no curso da Fly a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos.
“Não planejava atuar como gestora, nem estar fora da minha área de formação, ainda assim, tenho extraído ensinamentos dessa experiência. É impossível negar que na prática as coisas são diferentes, tendo que driblar assédios e outras violências. No entanto, com as ferramentas socioemocionais me sinto mais apta a perseverar”, conta.
Tânia Coimbra, carioca de 46 anos e mãe de três filhas, é formada em Logística Empresarial, e atualmente lidera a área financeira de uma empresa. No último aniversário, em meio a tantas adversidades, pediu por mais oportunidade e a ganhou por meio do Mulheres in Tech.
“Defino o desenvolvimento das habilidades socioemocionais em uma palavra: ‘perfeito’. Nas aulas me senti fortalecida e estimulada a continuar. Dificuldades reais foram divididas, gerando grande pertencimento. Vejo como esse conhecimento atua como divisor de águas e me permitiu lidar com as situações de forma mais inteligente emocionalmente”, compartilhou.
Com cerca de 10 anos de atuação, a Fly Educação já impactou 300 mil pessoas indiretamente, sendo 8 mil diretamente, por meio de mais de 200 projetos, dentre eles o Mulheres in Tech, que já atendeu mais de 16 turmas.
Segundo o censo Fly de Empregabilidade, o projeto gerou R$ 5 milhões em renda anual para mulheres em vulnerabilidade social, sendo que 54% das estudantes formadas pelo programa encontraram um trabalho na área da tecnologia após o curso.
Além disso, nestes empregos, cerca de 77% das estudantes recebem de um a três salários mínimos (de R$ 1.412 a R$ 4.236), 14% recebem de três a quatro (R$ 4.236 a R$ 5.648), enquanto pouco mais de 2% entre cinco a sete salários mínimos (R$7.060 a R$ 9.884).
“Nosso objetivo é impactar diretamente a vida de mais de 10 mil jovens e mulheres, oferecendo programas personalizados de desenvolvimento de habilidades técnicas e socioemocionais”, estima Yacovodonato.