Após ciclo de 14 dias de medidas restritivas mais severas, decretada no dia 18 de março, as atividades econômicas em Pernambuco voltaram – gradualmente – ao funcionamento na quinta-feira (1). O retorno, apesar de dar fôlego para áreas que demandam fluxo de público, como o comércio, não sana a insegurança financeira da população. Movimentos sociais e sociedade civil pressionam pela implementação de um auxílio emergencial que garanta a sobrevivência da população de baixa renda e em situação de miséria. Protestos na terra e no mar marcaram o último final de semana na capital.
Um dos alertas de insatisfação se deu na manhã da última quinta-feira (26), quando integrantes de movimentos sociais iniciaram uma ação denominada ‘Jornada de Lutas’, que viabiliza manifestações sociais de rua desde 2018. Os manifestantes ocuparam sete pontos do Recife com faixas e cartazes. O grupo também fez plantão em um supermercado com transmissão ao vivo para sensibilizar sobre a necessidade de doações de alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade e conseguiram ser atentidos. Como pauta central da atividade, críticas às propostas do Governo Federal, de R$250, e da gestão municipal, que varia entre R$50 e R$150. As reivindicações abriram diálogo com a Câmara de Vereadores do Recife. Nos próximos dias 7, 8 e 9 está prevista para acontecer conversas entre parlamentares e lideranças de movimentos sociais, sindicatos e especialistas. Uma plenária do Movimento dos Trabalhadores sem Teto com a Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo também deve ser agendada nos próximos dias.
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“Existem pessoas que não conseguem seguir os protocolos de distanciamento porque elas estão na rua lutando para sobreviver. Ou fica em casa e morre de fome ou vai para rua e morre de covid”, desabafa Vitória Genuíno, coordenadora do MTST. Segundo ela o debate em torno do auxílio emergencial na capital de Pernambuco deve se ampliar para outras cidades. Uma das articuladoras da Jornada de Lutas, Vitória conta que os movimentos não são contrários às medidas de restrição de convivência, mas reconhecem as necessidades da população. “Entramos no segundo ano da pandemia e assistimos ao retrocesso nas questões de segurança e sanitária. A gente não tem como não ir para a rua para gritar porque todos os dias os trabalhadores são violentados”, pontua.
Coordenador nacional do MTST e da campanha pela renda básica no Recife, Rud Rafael, avalia que a proposta de auxílio emergencial apresentada para a capital pernambucana não condiz com a realidade das pessoas em vulnerabilidade social. “O que foi levantado pela Prefeitura do Recife é uma proposta absurda diante da situação precária que a população está passando. Mesmo com avanços de negociação de doação de um número de cestas básicas com o executivo e uma rede de supermercado, temos que trabalhar na perspectiva de um auxílio permanente e que seja um valor que, minimamente, gere um impacto de verdade. O valor que está sendo oferecido até hoje não garante um gás ou uma feira para a semana, por exemplo”, ressalta o articulador.
Segundo os integrantes da Jornada de Lutas, a expectativa é de que um novo desenho de proposta seja aprovado e encaminhado à Prefeitura do Recife ainda na próxima semana. Entre os argumentos, a articulação leva em conta os índices de desigualdade social local e comparativos com a implementação do auxílio em cidades como Belém, na região Norte do país, que conseguiu chegar ao valor de R$350.
“É possível e necessário reorganizar o orçamento público para dar conta dessa situação de precariedade que a população está passando. Por isso, fazemos questão de estarmos presentes neste processo, indicando insuficientes para a população mais vulnerável, na esperança que o debate avance no poder político. É preciso políticas de enfrentamento, não publicidade”, conclui Rud.
Articuladores sociais estiveram nas ruas com cartazes protestando contra a proposta de auxílio apresentada pela Prefeitura do Recife
Entenda novo ‘Plano de Convivência’
Como continuidade das políticas de prevenção às novas ondas de infecção no estado, um novo Plano de Convivência passa a funcionar até o próximo dia 25 de abril. O comércio e as demais atividades econômicas passam a funcionar das 10h às 20h durante a semana e das 9h às 17h aos sábados, domingos e feriados.
Já as aulas seguirão o perfil gradativo que as novas medidas propõem. No dia 5 de abril voltam às aulas turmas dos Anos Iniciais apenas da rede privada. Os Anos Finais e Ensino Médio ficam para o dia 12. No Ensino Público, a retomada se dá a partir do dia 19 para o 3º ano do Ensino Médio, Educação Infantil e Fundamental Anos Iniciais. A partir do dia 26, será a vez do 2º ano do Ensino Médio e Fundamental Anos Finais (9º e 8º Anos). Em 3 de maio, poderão retornar alunos do 1º ano do Ensino Médio e Fundamental Anos Finais (7º e 6º Anos).
Por fim, as novas medidas decretam que ir à praia só será possível para atividades físicas feitas individualmente.
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