Coletivos e moradores promovem ações para minimizar os impactos e para ajudar na prevenção
Texto / Flávia Ribeiro | Edição / Simone Freire | Imagem / Mário G. Neto
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Levar informações, alimentos básicos e kits de higiene aos bairros periféricos de Belém, no Pará, são estratégias de combate à pandemia de Covid-19, o novo coronavírus, adotadas por coletivos e organizações que já atuavam nas periferias, e agora tiveram que mudar o foco das suas ações. O objetivo é de diminuir os impactos na saúde, os financeiros e informar sobre a necessidade de adotar corretamente as medidas de prevenção à doença.
Nesta semana, mais de 40 cestas básicas de alimentos, kits de higiene e de desenho foram entregues no bairro do Guamá, o mais populoso da capital. “O projeto Telas em Movimento nasceu com o objetivo de democratizar o acesso ao cinema nas periferias, além de reconhecer e valorizar quem faz o corre na sua comunidade. Diante da pandemia, foi necessário se reformular para auxiliar no combate à Covid-19 e ajudar famílias em situação de vulnerabilidade nas periferias de Belém”, comenta Joyce Cursino, idealizadora do projeto.
O Telas em Movimento irá atender 200 famílias dos bairros periféricos de Belém do Pará: Jurunas, Guamá e Terra Firme, além das comunidades ribeirinhas do Combu, Piriquitaquara, Murutucum, Ilha grande e a Comunidade remanescente de quilombo Pitimandeua, distribuindo cestas básicas de alimento, kits de higiene, incluindo álcool em gel, e 400 máscaras. “É um processo de aquilombamento que está sendo realizado para fortalecimento de coletivos e de iniciativas que já atuam nas periferias. As pessoas que estão distribuindo cestas e construindo comunicação recebem uma ajuda de custo neste momento tão difícil para fortalecer suas ações”, fala Cursino.
Uma parte das entregas foi feita no Espaço Cultural Nossa Biblioteca, com 13 cestas e kits de limpeza, além de 20 kits de limpeza. A entidade atua há mais de 40 anos no bairro do Guamá, com a missão de difundir a leitura e a democratização dos livros, além de proporcionar acesso à cultura, educação e lazer, com a visão de construir um bairro de leitores.
Acostumados com crianças e adolescentes em atividades ou consultando a biblioteca comunitária instalada no bairro do Guamá, os voluntários tiveram que estabelecer novas ações. “Tentamos ajuda do poder público, mas não conseguimos. Então, decidimos fazer uma campanha nas nossas redes sociais para coisas básicas, incluindo máscaras. Sabemos o que é difícil para muitas pessoas terem acessos, em famílias numerosas, por exemplo, poderia ser complicado para que todos tivessem a sua” comenta Sabrina Sousa, voluntária da biblioteca.
Na primeira distribuição, 44 famílias foram atendidas, mas a meta é alcançar 400. “Essa é uma maneira de tentar ajudar as pessoas do bairro a manterem o distanciamento social. A gente sabe que é difícil ficar em casa, mas é uma maneira de ajudar minimamente nesse momento”, comenta.
Além disso, os voluntários também vão tentar fazer inscrição em editais para construir lavatórios próximo das feiras. “A biblioteca tem um histórico de lutas no bairro e o saneamento básico é uma das bandeiras, assim como asfalto, fornecimento de água. Aqui falta água nas torneiras e alaga quando chove, então o desafio é fazer esse diálogo sobre a prevenção, ao mesmo tempo ter o mínimo de saneamento”, destaca Sousa.
O bairro é onde mora o artista visual Mário Guerreiro Neto e foi onde ele fez projeções usando falas comuns às periferias. Muros sem reboco receberam mensagens como “Fica no teu setor” e “Ei, mano, fica em casa #dirocha”. A ideia começou como uma iniciativa autônoma, mas agora faz parte da rede do projeto “Projetemos”, que reúne projecionistas livres de todo o país. “Acredito que as pessoas nos centros estão até bem informadas sobre a importância de ficar em casa, não o suficiente, mas bem… Já aqui, as ruas e feiras ainda estão com muita gente. A informação correta não está chegando em quem mais vai sofrer sem atendimento nos hospitais. Então, a ideia principal é alcançar as pessoas da vizinhança com informação direta e o linguajar que a gente usa aqui”, afirma.
Já no bairro da Terra Firme, voluntários do Terra Solidária alcançaram 600 famílias, contando com adesões de amigos, instituições e até o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) doou parte de sua produção. “Infelizmente há um avanço grande da pandemia em nossas quebradas. Há muitos relatos de pessoas que estão morrendo. O nosso sistema de saúde entrou em colapso. Estamos passando por uma situação muito triste”, lamenta o geógrafo Francisco Batista, o Zeca da TF.
A mobilização começou em fevereiro, após enchentes provocadas por fatores como chuvas e maré alta. A ideia era de ajudar as vítimas, mas foi necessário reformular. “A Terra Firme é uma periferia imediata porque fica próximo ao centro. É um território marcado por lutas, principalmente a da moradia. O bairro é uma grande ocupação e enfrenta problemas comuns a várias periferias. Uma das questões é a precariedade no saneamento básico. Já estávamos enfrentando as enchentes, com pandemia pensamos no suporte alimentar, na orientação com profissionais de saúde do bairro e distribuição de kits de higiene”, explica o geógrafo, pontuando algumas das ações que permanecerão sendo realizadas pela iniciativa.
*Imagens internas: Ariela Motizuki e Francisco Batista.