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Pernambuco terá 1ª instituição de ensino voltada à educação afro-brasileira

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19 de janeiro de 2021

Com sede no sítio histórico de Olinda, a Casa do Ofá pretende unir saberes ancestrais negros no desenvolvimento cognitivo infantil; Projeto foi criado pela contadora de histórias e pedagoga Kemla Baptista

Texto: Victor Lacerda e Lenne Ferreira / Edição: Lenne Ferreira / Imagem: Acervo Pessoal/Kemla Baptista

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A pedagoga, contadora de histórias e empreendedora social pernambucana Kemla Baptista tenta viabilizar o sonho de abrir um espaço educativo cuja proposta de aprendizagem será dedicada aos ensinamentos da história afro-brasileira, ainda nos primeiros anos da vida da criança. Voltada para o público infantil, a “Casa do Ofá”, vai funcionar no bairro do Varadouro, em Olinda, e promete desconstruir narrativas pedagógicas tradicionais na cidade. 

A escolha do nome do projeto tem a ver com o instrumento ‘Ofá’, que reúne o arco e a flecha em um só símbolo. O objeto é conhecido como paramenta do orixá Oxóssi, força da natureza e sábio das matas que, segundo a história contada pelas religiões de matriz africana, alimentava seu povo através da caça. A metáfora ao símbolo, em Olinda, será usada para buscar e alcançar conhecimento ancestral, desde o nome da instituição de ensino.

O espaço é o desdobramento do trabalho que Kemla já protagoniza, o “Caçando Estórias”, um negócio social baseado em tradição oral, literatura, contação de histórias, educação antirracista e mobilização social. Após 12 anos atuando de forma itinerante com este projeto, a empreendedora social espera firmar um espaço para realizar atividades com crianças com uma programação fixa de educação.

Com “A Casa do Ofá” de portas abertas, em breve, a pedagoga visa trabalhar o olhar das crianças sobre as questões sociais e atentar a toda a rede educativa a valorização da construção da identidade preta. Para ela, fomentar uma educação antirracista, de reconstrução denarrativas, é trazer novas formas de olhar o mundo ao redor desde a infância.

Kemla ainda destaca a importância da ruptura da forma de fazer educação no estado como um meio de romper com o passado pautado sob o olhar de subalternidade e escravização do povo negro no estado e a nível nacional.

“Não só em Pernambuco, mas no Brasil como um todo, nós temos uma deficiência de espaços educativos alternativos, mas alternativos que dialoguem com as nossas vivências e pertenças pretas. Para mim, ter um espaço como este é uma resposta ao desafio de romper com uma educação hegemônica e branca, principalmente em estados como Pernambuco, que ainda sofre com o histórico colonialista, mas, sei que, para muitos, ainda é novo esse tipo de educação e abordagem”, pondera a pedagoga.

 

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Kemla atenta para à falta de opções de  escolas que fujam das temáticas tradicionais apresentadas em sua maioria, mas que sejam acessíveis ao bolso de todos os tipos de família. Por isso, a casa também receberá gratuitamente crianças e famílias moradoras das comunidades do entorno do sítio histórico de Olinda.

“A criança, no momento que ela colocar os pés do portão pra dentro, ela já estará em outro ambiente. Um ambiente onde o racismo, a gordofobia, a misoginia, a lgbtfobia, todas essas fobias sociais e construções negativas da sociedade se revelarão de outra forma. Elas serão barradas. Aqui, estarão crianças de todas as origens. Todo tipo de família será bem recebida”, afirma Kemla.

Para a programação da instituição, já estão previstas atividades como o Ateliê Afro Lúdico do projeto “Caçando Estórias”, com a presença de convidados, encontros de Mediação de Leitura e Musicalização com o “Caçando Estórias”, brincadeiras com o corpo através da Capoeira, aulas de danças africanas, danças populares brasileiras e circo, roda de contos com piquenique no quintal, além de atendimento terapêutico e psicopedagógico para crianças e famílias. 

Abertura gradativa 

Kemla Baptista conta que, mesmo após um período de reformas na casa histórica que será sede do espaço educativo, terá que aguardar mais um pouco pelos riscos à saúde que a população brasileira ainda enfrenta. As vivências culturais afro-brasileiras para crianças, suas famílias e educadores, terão que esperar o período de vacinação contra a COVID-19, pelo que informa a idealizadora do projeto e só serão iniciadas de forma gradativa.

A pedagoga havia aberto uma vakinha online para angariar fundos para melhor atender, estruturalmente, quem quisesse participar das atividades da casa e relata, na página da campanha, tirar do próprio bolso valores referentes aos custos mensais do imóvel, como aluguel e energia, mesmo no período em que a casa ainda encontra-se fechada.

Com a meta de alcançar o montante de R$4.000,00, recentemente, a campanha ultrapassou o valor, chegando a R$4.875,00. A ação contou com um total de 33 doadores e segue aberta para quem quiser ajudar nos custos mensais do espaço. 

Para ajudar, acesse o link: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/obra-casa-do-ofa-parte-i

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