Pessoas negras foram as maiores vítimas de erros médicos devido a acidentes ou à negligência profissional, ocorridos entre 2010 e 2021 no Brasil. A informação é da terceira edição do estudo Boletim Saúde da População Negra, um projeto do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e do Instituto Çarê.
Entre 2010 e 2021, foram registradas 66.496 internações devido a “eventos adversos”, definidos como condições hospitalares adquiridas de forma indesejável e não-intencionais durante o período de internação. Isso inclui desde cortes acidentais a perfurações e objetos estranhos deixados no corpo do paciente durante procedimentos. Em média, foram 15 casos por dia.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
A análise revela que, no período de 2012 a 2021, as regiões Norte e Nordeste apresentam seis vezes mais casos de internação de negros por incidentes. No Centro-Oeste o número é três vezes maior, e no Sudeste as chances são 65% maiores. No Sul, única região onde a tendência se inverte, pessoas brancas têm 38% mais chances de sofrer com essas causas.
Entre 2010 e 2015, ano onde ocorreu o pico das ocorrências, houve um aumento significativo nas internações por acidentes e incidentes adversos, tanto para pessoas negras como para brancas em todo o país. A partir de 2016, no entanto, houve uma inversão, e em 2021, os números retornaram aos níveis de 2010.
“Embora observemos uma queda no número absoluto dessas ocorrências nos últimos anos, a importância de sua investigação é crucial para melhorar a qualidade da assistência médica. Ao identificar tendências nas falhas e causas, torna-se possível implementar medidas corretivas, prevenir danos adicionais e promover transparência e responsabilização”, diz trecho do estudo.
Ainda segundo o levantamento, as desigualdades nas taxas de internação apontam para a importância de políticas específicas, como a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), para abordar as disparidades e promover o acesso equitativo aos cuidados de saúde.
“A busca por uma saúde mais justa e igualitária exige um compromisso constante com a investigação, ação corretiva e aprimoramento dos serviços de saúde, em prol de toda a população, independentemente da raça ou cor.”