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Polícia Civil do Maranhão investiga terreiro incendiado

Episódio é o terceiro em que o terreiro do Babalorixá Pai Samuel é alvo de ataque; Polícia Civil também diz apurar a conduta dos funcionários que não registraram o boletim de ocorrência

Artefatos queimados no Terreiro

Foto: Imagem: Divulgação

15 de junho de 2022

A Polícia Civil do Maranhão investiga o incêncio no terreiro “Deus Tudo Vê Caboclo da Bandeira”, do babalorixá pai Samuel. O espaço foi incendiado no dia 7 de junho, na cidade de São Luís, Maranhão, no bairro do Cajueiro.

De acordo com o posicionamento da Secretaria de Segurança Pública do estado, o caso é investigado pela Delegacia de Crimes de Intolerância. A expectativa é a de fazer coleta dos depoimentos e apurar as circunstâncias do fogo no tempo templo religioso e a residência do babalorixá.

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“A perícia será acompanhada pela equipe da Ouvidoria de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Juventude da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop) e do Pacto Pela Paz, que fará os encaminhamentos assim que o procedimento for concluído”.

Na manhã do dia 10 de junho, sexta-feira, uma equipe da Sedihpop foi ao local para conversar com o babalorixá e entender a situação.

A Secretaria de Segurança Pública também fará uma apuração da negação por parte da delegacia que se negou a registrar o crime. De acordo com a pasta, no mês de abril de 2022, foi criada a portaria 435/2022, que estabelece para todo delegado “o dever de registrar o boletim de ocorrência no Sistema Integrado de Gestão do Maranhão (SIGMA), independente de qual seja a unidade policial com atribuição para o caso”.

Hédio Silva, advogado do Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-brasileiras (IDAFRO), afirma que qualquer delegacia é hábil para receber uma queixa de crime de racismo. Ele diz que o delegado comete um crime de prevaricação quando deixa de registrar a denúncia. O artigo 319 do Código Penal define o crime de prevaricação como o ato de “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”. A pena é de três meses a um ano, além de multa.

Entenda o caso

Esse é o terceiro e mais intenso ataque ao centro religioso e à residência de Samuel. As imagens mostram o terreno todo destruído, com geladeira, cama, telhado e paredes danificados. Ele diz ter perdido todos os itens do imóvel e hoje ter apenas as roupas que vestia no momento do fato.

O espaço existe desde 2006 e concentra o terreiro e a casa do babalorixá, Ilê próximo ao Morro do Egito, onde foi construído o primeiro terreiro da cidade de São Luís. Na segunda-feira (6), pai Samuel fazia um trabalho espiritual quando arremessaram uma pedra na casa. Na terça-feira (7) pela manhã, ele precisou sair para comprar itens religiosos quando recebeu a ligação da vizinha com o alerta sobre o incêndio.

“Eu não posso sair de casa. Eu tenho até trauma. Quando eu vejo o meu celular tocar e a minha vizinha ligar, eu fico sentado no chão para não cair”. Pai Samuel tem se utilizado da fé para enfrentar o atual momento. “Eu perdi tudo, não tenho mais nada. Só sobrou a minha vida, a vontade de viver e a força que eu tenho em pai Xangô”, conta.

Essa é a terceira vez que o terreiro é atacado. Na primeira vez, colocaram fogo em um matagal próximo à casa, e as labaredas quase chegaram ao imóvel. No segundo caso, chegaram a incendiar a casa, que ficou parcialmente danificada. As características semelhantes dos outros ataques levam os religiosos a acreditar que a ação do dia 7 de junho foi criminosa. Apesar disso, dizem não ter nenhum suspeito.

Leia também: Terreiro é incendiado em São Luís (MA): “A justiça para o candomblecista é zero”

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