A violência policial no Brasil chocou integrantes de organizações de movimento negro de outros países presentes em Genebra, na Suíça, para a 3ª Sessão do Fórum Permanente de Pessoas Afrodescendentes.
Beatriz Lourenço, militante da Uneafro Brasil e diretora de incidência política do Instituto de Referência Negra Peregum, compartilhou as mais recentes investigações sobre o caso de Marielle Franco, com o envolvimento do então chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, a influência direta da intervenção militar do Exército Brasileiro sobre o estado no ano de 2018.
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“É preciso compreender que as policiais no Brasil foram criadas para combater pessoas negras que lutavam contra a escravidão e persistiu durante momentos da história brasileira como a Ditadura Civil-Militar”, afirmou, em encontro acompanhado pela Alma Preta.
Os dados sobre a violência no país, como de que todos os dias 17 pessoas são mortas pelas polícias, de que há cada 23 minutos um jovem negro é assassinado chamou atenção dos participantes, que ficaram incrédulos com os indicadores do país. Durante a conversa, ainda foram recordadas as operações policiais na Baixada Santista, a primeira, a Escudo, que terminou com 28 mortes, e a segunda, a Verão, com 56 vítimas.
O encontro chamado de “Impacto da Militarização sobre Afrodescendentes” ocorreu nesta terça-feira (16) no espaço Maison de Maitre, próximo à sede das Nações Unidas. A conversa foi organizada pelo Movimento por Vidas Negras dos Estados Unidos e o Southern Center on Human Rights Movement for Black Lives.
O diálogo é um evento paralelo, organizado para aproveitar a presença de militantes antirracistas de todo o mundo na 3ª Sessão do Fórum Permanente de Pessoas Afrodescendentes.
A atividade contou com introdução de ativistas, com uma primeira análise sobre a militarização nos países da diáspora africana, com uma sequência de demais contribuições dos participantes, que ficaram sentados em círculo. O debate também condenou a atual política de guerra às drogas, em que os Estados adotam um discurso de combater grupos criminosos por meio do aparelho repressivo e acabam por criminalizar territórios de maioria negra e deixar vítimas.
Ao final, foram debatidas possibilidades de parcerias em conjunto para enfrentar o problema. Vince Warren, do Center for Constitutional Rights, propôs como encaminhamentos aumentar a frequência desse diálogo e propor estratégias para fortalecer as iniciativas de organizações negras pela diáspora. “O que eles temem é o real poder negro”, afirmou.
Militantes negros dos Estados Unidos, como Nana Gyamfi, integrante da Black Alliance for Justice Immigration, falou sobre a maior militarização das policias e da sociedade americana depois dos protestos com a morte de George Floyd. Ela sinalizou para uma maior sofisticação da presença do Estado, com mais câmeras e mais tecnologia como a identificação visual como forma de controle das comunidades negras.
O que é o encontro?
O Fórum Permanente foi criado em 2021 a partir de decisão da Assembleia Geral da ONU, como uma resposta à Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024). O objetivo é fortalecer a inclusão política, econômica e social de afrodescendentes ao redor do mundo.
O encontro também visa observar iniciativas positivas construídas por governos e sociedade civil a fim de incentivá-las para outros países. O Fórum Permanente também debate a elaboração de uma declaração das Nações Unidas para a proteção dos direitos dos povos afrodescendentes no mundo.
Os quatro pilares do terceiro encontro em Genebra são Reparações, Desenvolvimento Sustentável e Justiça Econômica; Superando o Racismo Sistêmicos e os Danos Históricos; Cultura e Reconhecimento; e a Segunda Década Internacional de Afrodescendentes: Expectativas e Desafios