“A história de pessoas negras em países colonizados, quando narrada, é geralmente contada através da perspectiva dos colonizadores. Nossas vidas foram continuamente marginalizadas, apagadas e reprimidas. A população do país precisa conhecer e reconhecer que foram seus antepassados, a fim de compreender o hoje”, declara a diretora do documentário “Chico Rei Entre Nós”, Joyce Prado.
Premiado na 44ª Mostra Internacional de São Paulo, o longa explora os ecos da escravidão na vida das pessoas negras dos dias de hoje e realça o sentimento emancipador de pertencer a um coletivo. O ponto de partida do documentário é a história de Chico Rei – ou Galanga -, rei congolês trazido como escravo para trabalhar na região de Outro Preto, em Minas Gerais, em 1740, que comprou sua própria liberdade e a de outros escravos.
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Para o produtor André Sobral, o filme dá voz a pessoas comuns e expõe a desigualdade social no Brasil. Segundo ele, “a grande mensagem desta história é a virada: um rei que é escravizado e retoma sua coroa. Uma história de esperança de um líder que atuou pelos seus liderados. Ao contrário do que ocorre hoje”, avalia Sobral.
Figura eternizada na tradição oral e celebrada anualmente no “Reinado”, cerimônia que acontece na cidade mineira de Outro Preto, “Chico Rei Entre Nós” partiu de uma ideia original da Abrolhos Filmes e é o primeiro longa dirigido por Joyce Prado.
Equipe e exibição
“A visão da Joyce sobre a história é o de uma pessoa negra também. Essa foi a intenção quando a convidamos. Aliás, a equipe de pesquisa e fotografia também era de mulheres pretas e talentosas”, ressalta o produtor André Sobral.
O documentário está em exibição na 2ª Mostra Taturana de Cinema: ‘Democracia e Antirracismo’, iniciada na última terça-feira (14), e também terá uma sessão presencial no CCSP (Centro Cultural São Paulo), além de estar disponível online por 48h, na plataforma Todesplay.
“É muito recompensador saber que a história de Chico Rei será exibida de maneira acessível aos brasileiros em um evento que prestigia a produção audiovisual negra, ampliando e revelando a diversidade de narrativas que a história do Brasil e o cinema possibilitam”, avalia o produtor André Sobral, da Abrolhos Filmes.
Ele explica que, antes de convidar Joyce Prado para dirigir o documentário, a produção já havia feito um curta de um vídeo dança que contava a história de Chico Rei, bem como uma pesquisa sobre as festas do congado pelo Brasil.
“Quando Joyce foi a Ouro Preto em busca de personagens, seu interesse pela história dos negros que foram trazidos para Minas Gerais foi muito enriquecedor para o documentário. Seu orgulho pelas habilidades desses pretos de baixa estatura, figuras que foram fundamentais para a extração do ouro, é um grande destaque da obra”, finaliza.
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