Produção audiovisual da periferia da zona leste de São Paulo realiza campanha de financiamento coletivo
Texto / Simone Freire | Imagem / Jesu Severo | Edição / Pedro Borges
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“Saudade” é um curta metragem simples e sensível que conta a história de quatro amigas e suas relações em várias etapas da vida. Dirigido, protagonizado e produzido por coletivos, organizações e artistas periféricos de São Paulo, a obra está com uma campanha de financiamento coletivo aberta até dia 6 de março.
O dinheiro arrecadado será para remunerar, minimamente, a equipe de produção e elenco, bem como transporte, alimentação e a equipe de filmagem, edição e finalização do curta.
“Fazer filme periférico é encher uma laje na quebrada. Chamar os aliadxs, ‘bota’ água no feijão que a gente vai fazer o teto da casa! Não seria possível realizar mais esse filme sem uma rede de coletivos que toparam a proposta”, conta Andrio Candido, diretor e roteirista.
O protagonismo do filme é de mulheres negras e homens negros, bem como da população LGBTQ+ e periféricos de forma geral. “Cada grupo, indivíduo e artista teve autonomia para atuar livre na sua criação, extrapolando e superando o que eu havia imaginado e proposto. E que bom… fazer filme é isso. É uma obra coletiva e a periferia tem muito a ensinar pro mundo sobre coletividade, sabe. Aliás somos escola de coletividade”, diz Andrio.
Cenário nacional
A campanha de financiamento coletivo foi a alternativa encontrada pelo diretor para dar sequência na produção, uma vez que o acesso a editais e financiamentos públicos está cada vez mais difícil, principalmente para produções negras e periféricas.
O governo do presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, tem diminuído investimentos na área. Para 2020, o governo propôs um projeto ao poder legislativo que corta em 43% o orçamento do Fundo Setorial do Audiovisual, passando de R$ 650 milhões para R$ 300 milhões.
Em setembro do ano passado, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) também suspendeu a concessão de apoio financeiro para os filmes com temática LGBT+ e o ministro da Cidadania barrou o processo de seleção de séries com temática LGBT+ pré-selecionadas para um edital para TVs públicas. A própria Ancine também chegou a ser ameaçada de extinção pelo presidente.
“Estamos sentindo os baques sim, mas descendemos de quilombolas, sempre existimos e existiremos”, diz Andrio. “Não ficaremos esperando o recurso financeiro ideal para realizar a produção deste filme, como nada na vida, iremos criar estes recursos, provocá-los, atraí-los, vamos buscá-lo e ou barganha-lo”, diz.
A campanha de financiamento está ativa no site Kickante. Para saber mais sobre e colaborar acesse aqui.