Ao se pensar em pratos típicos de celebrações no Brasil, como o Natal, é comum imaginar receitas como o peru, o pernil e a farofa. No entanto, muitos desses preparos têm raízes que vão além das fronteiras brasileiras, alcançando o continente africano.
A chef Carmem Virgínia, sócia do restaurante Altar Cozinha Ancestral e reconhecida por sua defesa da culinária afro-brasileira, ressalta como elementos da gastronomia africana se misturaram às tradições locais e hoje estão presentes nas mesas de diversas famílias.
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“O pernil, por exemplo, remonta às práticas alimentares das sociedades africanas que, ao serem trazidas à força para o Brasil, integraram o sabor de temperos como o cominho, a pimenta e as ervas frescas. A farofa, tão brasileira, é um símbolo direto dessa fusão: feita com farinha de mandioca, tem sua origem em técnicas trazidas e adaptadas pelos africanos que a utilizavam para acompanhar ensopados e carnes”, explica Carmem.
Segundo a chef, o Natal é uma das celebrações em que mais se percebe essa herança gastronômica, com pratos que ganharam uma nova leitura no Brasil, mas que mantêm a essência da ancestralidade.
“Ao colocar uma farofa bem temperada ao lado do peru de Natal, estamos, muitas vezes, nos conectando com histórias e rituais que atravessaram gerações e oceanos. Esses alimentos contam a história de resistência, troca cultural e identidade”, explica.
Carmem Virgínia também destaca que o conhecimento africano influenciou a forma de preparar carnes, incorporando marinadas longas e temperos marcantes que exaltam os sabores naturais dos ingredientes.
“O tempero do pernil ou do peru que fazemos para a ceia natalina, com alho, cebola, limão e ervas frescas, é um reflexo desse saber ancestral. E é essa fusão de culturas que transforma a mesa brasileira em algo único e memorável”, complementa.