A cidade de São Paulo ganha mais uma obra de arte urbana que convida o público à reflexão e ao reconhecimento das tradições populares brasileiras. O megamural intitulado “La Ursa pelo Direito à Cidade”, do artista pernambucano Osù, está localizado na Rua Japichaua, altura do número 506, no bairro Jardim Matarazzo.
Inspirado na figura da La Ursa, uma manifestação carnavalesca típica de Pernambuco, o grafite combina a arte de rua com o poder cultural do povo nordestino, simbolizando a ocupação de espaços urbanos e a resistência cultural das periferias. A obra integra o projeto Museu de Arte de Rua (MAR), promovido pela Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo.
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Para o artista Osù, o que na infância parecia apenas uma brincadeira com a La Ursa nas ruas hoje carrega a força simbólica de um povo.
“É sobre ocupar a cidade, sobre resistência. Precisamos ocupar todos os espaços, mas ainda existem lugares que não conseguimos acessar”, reflete.
Para ele, há uma conexão muito forte entre o graffiti e a La Ursa, que é justamente a vontade de estar na rua, de movimentar a cidade, de transformar o dia das pessoas e de levar alegria de alguma forma.
“O graffiti está ali, nas ruas, disponível para todos, assim como a La Ursa, que também cumpre esse papel e traz reivindicações junto”, conclui.
A obra “La Ursa pelo Direito à Cidade” se desdobra em múltiplos significados, abordando as desigualdades e o sucateamento da cultura popular. A figura da La Ursa, que ecoa nas ruas com o grito “A La Ursa quer dinheiro, quem não dá é pirangueiro”, simboliza uma tradição que ainda resiste.
“Ela tem suas necessidades, assim como nós. A La Ursa precisa de dinheiro, e é por isso que as pessoas recorrem a essa brincadeira para conseguir recursos, manter a cultura viva, comprar instrumentos, roupas”, explica Osù.
Ele relembra o tempo em que, sem fantasias, improvisavam com caixas de papelão, latas ou baldes para criar suas próprias La Ursas. “Era uma forma de criar, de pertencer”, afirma o artista.
O megamural, que ocupa três empenas do Condomínio Residencial Novo Horizonte, totalizando 375 metros quadrados, cria uma narrativa visual integrada, com cada parede complementando a outra. À esquerda, surge a figura de um percussionista com a camisa da bandeira de Pernambuco e a cabeça da La Ursa, enquanto que à direita, a personagem aparece em sua fantasia completa.
A obra também faz referência à arquitetura histórica de Olinda, simbolizando o encontro entre o patrimônio cultural e o urbano. Esses componentes ampliam a experiência da arte de rua, ao mesmo tempo em que evocam memórias e promovem o senso de pertencimento.
Em São Paulo, onde as influências culturais se misturam em cada canto, o mural também provoca uma reflexão sobre o papel da cultura periférica nas grandes metrópoles. Para Osù, o graffiti é uma forma de resgatar e preservar essas memórias.
“La Ursa pelo Direito à Cidade” é o segundo megamural do artista em São Paulo, que anteriormente realizou a empena “Memórias de Plantação” em 2023, também selecionada pelo Projeto MAR. Nesse mesmo ano, atuou como assistente artístico na execução da empena “Congênito”, da artista Fany Lima, também na capital paulista, e na execução da empena “Nossa Rainha Já se Coroou”, no Recife. Além disso, o artista possui murais de arte urbana em outras cidades, como Recife, Cabo de Santo Agostinho e Salvador.