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Documentário explora trajetória de homens trans na cena drag brasileira

Filme lançado em maio pelo Museu Transgênero de História e Arte destaca a cena Ballroom e artistas negros como Akin Zahin, Brisas Project, Emy Roots, Lili Bertas e Zaíra de Las Palozas
Capa do álbum "Gênero", de Emy Roots.

Capa do álbum "Gênero", de Emy Roots.

— Divulgação

1 de junho de 2025

O documentário “Para Apagar o Fogo”, projeto de Ian Habib, diretor do Museu Transgênero de História e Arte (MUTHA), destaca a trajetória e as performances drag de artistas transmasculinos, homens trans e não-binários do Brasil. 

Viabilizado com recursos do Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte, através do edital BH nas Telas 2023, o filme apresenta uma crítica às violências cotidianas que atravessam o dia a dia de artistas transmasculinos e à desvalorização histórica perpetuada tanto na cena cultural do passado quanto da atualidade.

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No vídeo, são explorados rituais de montação e criação das personagens que dão vida a shows de drag kings, queers e queens, monstros, burlescos e demais performatividades sertanejas, bruxas, terroristas e ecodrags, em interlocução com teatro, contação de histórias, circo, performance, números de humor, djing, rap, dança voguing e música acústica e eletrônica.

“O filme celebra a comunidade LGBTQIAPN+ como um todo, usando imagens rituais de fogo, dança voguing e vivências cuir para apresentar modos de construção de memórias através da Arte Drag”, explica Habib.

Estética

O projeto é uma investigação espacial, visual, musical e plástica. Ainda de acordo com Habib, o vídeo é experimental e comunitário, ou seja, feito de forma colaborativa, e possibilita o protagonismo de uma diversidade de existências transmasculinas para inspirar reflexão, além de convidar à realização de mais eventos desta natureza pela comunidade LGBTQIAPN+.

O foco estético do projeto se dá no work-in-progress, contra a lógica do “produto audiovisual”, experimentando o inacabado, o ruído, a estranheza sonora e a repetição, como as gravações caseiras feitas em shows punk e vídeos amadores das décadas de 1980 e 1990. Para reproduzir essa ambientação, as captações foram feitas no Teatro 171, espaço cultural alternativo e independente de Belo Horizonte, criado e gerenciado por pessoas LGBTQIAPN+.

O interesse dos artistas, então, é democratizar, por meio da festa performativa e do audiovisual documental, os modos de produção da linguagem Drag, em conjunto com dança e música, mostrando mais o processo de montagem das personagens, incluindo figurino, maquiagem e cenário, do que o produto final. O próprio processo de montagem faz parte da performance Drag captada pelo curta.

Transmasculinidades negras em cena

O vídeo, com duração de pouco mais de 20 minutos, apresenta sete artistas reunidos pela primeira vez, considerando as variadas identidades de gênero, raça, classe, diversidades corporais e linguagens artísticas, de forma a estabelecer questionamentos em relação às normas cisheterossexistas e racistas vigentes em nossa sociedade.

Destaque para os transmasculinos negros e afroindígenas Akin Zahin, Brisas Project, Emy Roots, Lili Bertas e Zaíra de Las Palozas, de diferentes origens e linguagens artísticas, naturais e/ou residentes da capital mineira e cujas trajetórias múltiplas se complementam e enriquecem ainda mais a narrativa. São artistas da música e da performance, que movimentam a cena artística mineira emplacando lançamentos nacionais.

Brisas Ribas é um artista transmasculino não-binário e dragqueer natural de Altamira, no Pará. Talentoso e multifacetado, desde 2016 dá vida a Brisas Project, plataforma de experiências musicais, visuais e performáticas em que o artista explora a criatividade de forma independente. Cantor, compositor, violonista, guitarrista e performer, Brisas utiliza a música e o transformismo para questionar estigmas de gênero e navegar por temas como amor, ancestralidade e subjetividades negras e trans. Sua performance dragqueer adiciona uma camada de fantasia e impacto visual à sua arte. Em março, lançou o EP “Perdoa” , mini álbum com quatro faixas autorais que traz reflexões íntimas sobre culpa e (auto) perdão.

Akin Zahin é cantor, ator e modelo de Belo Horizonte. Jovem de raízes indígenas e negras da favela do Marimbondo, Zahin desponta como uma das grandes promessas do R&B nacional. Eleito o homem trans mais bonito do país pelo concurso Mister Trans Brasil em 2024, o artista acaba de lançar dois singles, “Nova Era” e “Olhando pra Mim“, mesclas de R&B e Dril. Filho da The Loyal Kiki House of Cabal, o multiartista também fomenta a cultura Ballroom, sendo referência de autoestima, lifestyle e empoderamento para outros homens trans e transmasculinos. Para o segundo semestre de 2025, prepara novos lançamentos, incluindo um feat com o rapper Emy Roots.

Conterrâneo de Zahin, o jovem Emy Roots lançou em 2024 seu primeiro álbum,Gênero“, com 11 músicas autorais e tendo como primeiro single a músicaNão-Binári & Exibido“, um rap que trata das vivências de um jovem não-binário, preto e favelado na capital de seu estado. O clipe que ilustra a faixa é uma produção independente estrelada por uma juventude trans que festeja em um cenário que poderia ser de qualquer periferia do país.

Artista negro e tensionador de gênero que agita a cena festiva de Belo Horizonte, Eli Nunes dá vida a Lili Bertas e conduz vivências de Arte Drag em busca de figuras Drag Cuir. Pesquisador da arte transdisciplinar em ambientes festivos como Cabaré, Carnaval e a Ballroom, Eli trabalha desde 2008 nas artes, mesclando diferentes linguagens como teatro, artes visuais e poesia. Formado em Dança pela UFMG, é diretor dos espetáculos “ƎX-magination” e “AB!smo”, da Breve Cia. de Teatro. No audiovisual, destaca sua atuação no longaParque de Diversões“, de Ricardo Alves Júnior, e no curtaKings“, de Juliana Pamplona. Atualmente, integra os coletivos Moustache Queens, a House of Juicy Couture e o elenco da Plataforma Divinas.

Zaíra de Las Palozas é jornalista, produtor cultural e multiartista. Cineasta, DJ, compositor e fotógrafo, em PARA APAGAR O FOGO o músico oferece sua seleção que traz um panorama da música independente e fora do eixo, costurada aos hits atemporais que destravam memórias. Sempre privilegiando o som das periferias, negritudes, juventudes, das LGBT+, de originários e demais musicalidades revolucionárias, debochadas e dissidentes ao redor do globo.

Confira o documentário “Para Apagar o Fogo”:

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