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Espetáculo inspirado em conto de Machado de Assis reestreia em SP

Peça tem como ponto de partida texto que ressoa como síntese da crueldade de uma herança escravocrata ainda presente nas estruturas sociais brasileiras
Integrantes do Coletivo Negro.

Integrantes do Coletivo Negro.

— Divulgação

1 de junho de 2025

O Coletivo Negro, grupo dedicado à pesquisa cênico-racial e à criação de narrativas que entrelaçam arte e urgência histórica, reestreia o espetáculo “Pai contra Mãe ou Você está me Ouvindo?”, livremente inspirado no conto de Machado de Assis. A montagem reúne os três integrantes fundadores do grupo em cena, ao lado de um trio de músicos convidados que executam ao vivo a trilha sonora original, com direção musical de Guilherme Kastrup — vencedor do Grammy com o disco “A Mulher do Fim do Mundo”, de Elza Soares.

A peça conta a história de Zaíra da Conceição, mulher negra retinta e  grávida, e de Osvaldo, homem negro que acaba de se tornar pai. Ela está desempregada; ele acaba de ser contratado por uma rede de varejo. Zaíra sofre uma acusação infundada de roubo no supermercado. A partir daí, dois destinos colidem em uma disputa imposta pelas estruturas da desigualdade: pai contra mãe.

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A montagem tem como ponto de partida a sentença final do texto de Machado — “Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração.” —, que ressoa como síntese da crueldade de uma herança escravocrata ainda presente nas estruturas sociais brasileiras. Ao focar na trajetória de Candinho, homem negro desempregado e desesperado por sustentar a família, a dramaturgia expande o conto machadiano em direção a um campo de fricção com o presente.

“A encenação se inspira na reflexão de Achille Mbembe, que afirma: ‘o negro é o único cuja carne foi convertida em mercadoria’. Por isso, deslocamos parte da ação para o ambiente de um supermercado, símbolo da mercantilização do corpo negro. Essa recriação não apenas revê a violência histórica da escravidão, como propõe uma analogia direta com o racismo estrutural contemporâneo”, diz o diretorJé Oliveira.

A adaptação também tensiona as formas tradicionais de se encenar Machado de Assis. Para Oliveira, sua obra não pode ser dissociada da negritude de seu autor nem interpretada de forma escapista às questões raciais. O espetáculo, assim, busca ressignificar o conto, evidenciando as continuidades entre o Brasil escravocrata e o Brasil de hoje.

“A analogia de corpos como mercadoria num supermercado nos parece determinante. Quando uma mulher negra é mantida em cárcere por mexer na própria bolsa ou seguida dentro de uma loja, isso não é exceção — é estrutura. Segundo levantamento do Observatório do Terceiro Setor, quase 70% das pessoas negras afirmam já terem passado por isso”, pontua o diretor.

A montagem reúne todos os membros fundadores do Coletivo Negro — Aysha Nascimento, Flávio Rodrigues, Jé Oliveira e Raphael Garcia — em uma criação coletiva que reafirma a maturidade do grupo e sua relevância no teatro político contemporâneo. Com direção musical de Guilherme Kastrup (vencedor do Grammy com “A Mulher do Fim do Mundo”, de Elza Soares), a trilha é executada ao vivo, somando à encenação um pulso rítmico que costura cena, corpo e tempo.

A música na construção cênica 

A fusão entre teatro e música em “Pai contra Mãe ou Você está me Ouvindo?” ultrapassa a função de ambientação sonora e torna-se elemento essencial da narrativa. Em cena, um trio de músicos acompanha os intérpretes e dialoga com a ação: Lua Bernardo (baixo acústico e elétrico, sopros e voz), Maurício Pazz (bandolim e guitarra Afro Atlântica) e Thiago Sonho (percussão, bateria, samplers e voz).

No contexto do teatro épico, a música assume o papel de comentar a ação, criar contrastes e intensificar a experiência estética e emocional do público.

Ao se tornar elemento estruturante da encenação, a música aproxima a montagem de diversas tradições cênicas e expande seu alcance, promovendo uma experiência mais sensorial, imersiva e acessível a públicos com diferentes formações e sensibilidades.

Serviço

GALPÃO FOLIAS

Av. Ana Cintra, 213 – Santa Cecília – São Paulo – SP

Sáb, 31/05, às 18h e 21h | Dom, 01/06 às 18h e 21h

Qui, 05/06, às 18h e 21h | Sex, 06/06, às 18h e 21h

Sáb, 07/06, às 17h – Bate Papo e apresentação às 21h

Dom, 08/06, às 18h | Seg, 09/06, 18h e 21h

Ingressos: R$ 40 (int), R$ 20 (meia) e R$ 10 para Moradores da Santa Cecília – Vendas na bilheteria local e no Sympla

TEATRO ARTHUR AZEVEDO

Av. Paes de Barros, 955 – Mooca – São Paulo – SP

Qui, 12/06, às 17h e às 21h | Sex, 1306, às 17h e às 21h

Sáb, 07/06, às 17h, Mesa de debate com convidados: Luis Alberto de Abreu e Márcio Abreu (Gratuito)

Sáb, 14/06, às 21h | Dom, 15/06, às 19h

Qui, 19/06, às 17h e às 21h | Sex, 20/06, às 17h e às 21h

Sáb, 21/06, às 21h | Dom, 22/06, às 19h

Entrada gratuita – Retirada de ingressos 1h antes de cada sessão

Duração: 90 minutos

Classificação indicativa: 16 anos

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