O novo livro da escritora, jornalista e doutora em ciência da religião Claudia Alexandre, nomeado “Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô”, aponta a persistente demonização e masculinização do orixá Exu como um marco da crescente de intolerância às tradições das religiosidades afro-brasileiras.
A obra é fruto de tese de doutorado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), defendida em 2021. O tema do livro é baseado em experiências próprias da autora como uma mulher negra, de terreiro que se preocupa com o agravamento da vulnerabilidade dos seguidores das religiões afro-brasileiras. Segundo ela, a pesquisa busca chamar a atenção para violências e opressões que atingem mulheres negras neste campo religioso.
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Ainda de acordo com a especialista, a violência e os ataques a religiões de matriz africana operam na lógica do racismo, que no Brasil é considerado estrututal, visto que essa intolerância tem raízes profundas que remontam a um projeto que começou muito antes da escravidão.
“O sistema de relações da sociedade escravista com pessoas negras, tanto antes quanto depois da abolição, foi fundamentado na tentativa de justificar e legitimar a escravidão africana. Para isso, foram criados argumentos e teorias que visavam inferiorizar e, principalmente, demonizar os corpos negros”, explica em entrevista à Alma Preta.
Além das questões raciais, Claudia ressalta a importância de abordar a dimensão de gênero nos terreiros, visto que 65% das casas de culto de matrizes africanas no Brasil são lideradas por mulheres, o que evidencia a importância de discutir as especificidades das violências de gênero nesses espaços religiosos.
Em seu livro “Exu-Mulher e o Matriarcado Nagô”, a especialista explora como as tradições e religiosidades afro-brasileiras chegaram ao Brasil já demonizadas e aponta a masculinização do orixá Exu como um marco da crescente intolerância às tradições religiosas africanas no país, uma visão negativa que persiste até hoje, resultando em casos extremos de violência.
O livro faz uma associação a Exu-Mulher e mulheres negras, especialmente as brasileiras. A autora conta que a obra apresenta a visão que a sociedade construiu da mulher negra, a invisibilização, as opressões sociais e a violência patriarcal.
Ela explica que as mulheres de terreiro são as primeiras a buscar uma emancipação em uma sociedade desigual, lutando contra o racismo. Segundo ela, Exu-Mulher é um símbolo de resistência, pois, apesar dos atravessamentos e transformações, está no DNA de cada mulher negra que resiste por meio do sagrado.