“Só quero fazer o meu, para a fome ir e não voltar”. O desabafo é do artista Ian Lecter também conhecido como “Galeroso Manaura”, termo costumeiramente usado para identificar grupos marginalizados no Norte do país. Um dos nomes promissores da cena musical do estado do Amazônas, Lecter promove elementos da identidade do povo preto e periférico local dando novos sentidos a velhos conceitos. Em “Desde cedo”, música que acompanha um clipe e que foi lançado no final de fevereiro, o músico apresenta relatos sobre a luta diária para sobreviver, o saudosismo do tempo em que convivia com a mãe e outras vulnerabilidades. Um trabalho sensível e que merece a atenção não só dos conterrâneos, mas de todo o país.
A escolha da narrativa para inspirar a sua carreira musical e como ela pode ser ilustrada em suas produções é fruto da realidade diária a qual sempre esteve inserido, no bairro de Nova Cidade, na Zona Norte de Manaus, no Amazonas. Toda a vivência é misturada com elementos de referência do artista que retratam diversas linguagens da arte audiovisual contemporânea e urbana.
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Nesse contexto, o músico cobra por mais portas abertas para ele e os seus, quando desconstrói o preconceito em volta da figura do “galeroso” para a região. Lecter ainda traz elementos estéticos sobre essa figura simbólica e incorpora no seu discurso as dificuldades de ascender na área de cultura. Gente como ele, que não conta com estrutura mínima para produzir e projetar a carreira.
“Inscrevi o projeto desse clipe sabendo da potência que ele tinha, mas as condições eram estas: tela do celular trincada, não tenho computador ou notebook então a ideia precisava estar muito bem definida”, revela o rapper.
Essa realidade é explicitada no seu novo lançamento, a música” Desde Cedo”, primeiro single após o primeiro álbum de estúdio, “Cor da Alma”, lançado no primeiro semestre do ano passado. A nova faixa inclui ainda sua interpretação artística sobre suas perdas familiares, que iniciaram com a morte precoce de seu irmão e em seguida de sua mãe, acontecimentos que acompanham o artista e sua visão de mundo, que é retratada em suas outras canções.
A produção contou com direção de Lucas Negrelli, maquiagem artística de Natália Almeida, fotografia de Isa Hansen, arte plástica de Vank Primata e mais sete profissionais locais. A execução do projeto só foi possível pelo incentivo financeiro da Lei Aldir Blanc, um auxílio emergencial para o setor de cultura.
Confira o clipe na íntegra: