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Mãe Beth de Oxum é a 1ª ialorixá a receber o título “Patrimônio vivo de Pernambuco”

Mestra da cultura popular, comunicadora, cantora e ativista, Mãe Beth é uma das seis contempladas pelo título na edição 2021 e comemora o reconhecimento em entrevista à Alma Preta Jornalismo

Texto: Lenne Ferreira | Imagem: Débora Oliveira  

Mãe Beth é eleita Patrimônio Vivo de Pernambuco

12 de agosto de 2021

O brilho da filha de Oxum mais popular do bairro de Guadalupe, em Olinda, foi reconhecido com o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco. Maria Elizabeth Santiago de Oliveira ou Mãe Beth de Oxum, nome artístico que adotou ainda jovem, é uma das seis personalidades eleitas pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPPC) para receber a condecoração. Mestra da cultura popular, comunicadora, cantora, Mãe Beth se torna a primeira ialorixá a receber a titulação, que também inclui uma bolsa vitalícia.

A votação final aconteceu na manhã desta quinta (12), em reunião on-line com os integrantes do CEPPC, que é vinculado à Secretaria de Cultura de Pernambuco e Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco.  Os escolhidos receberão diploma com o título de “Patrimônios Vivos de Pernambuco” e bolsa mensal vitalícia no valor de R$ 1.600,00 (pessoa física) e R$ 3.200,00 (grupo, entidade, agremiação ou associação).

A notícia foi recebida com emoção por Mãe Beth de Oxum, familiares, amigos e admiradores (as). Ativista pelas causas sociais e da Cultura e que chegou a concorrer ao pleito para vereadora de Olinda nas últimas eleições, ela foi criada na região periférica da cidade onde também  cria seus filhos carnais. Para a artista, a titulação representa uma conquista importante em um contexto de crescente intolerância religiosa e de apagamento das trajetórias do povo preto. “Em geral, a mulher negra não é protagonista em nenhum espaço. É só olhar o nosso parlamento, as nossas casas legislativas. Nesse contexto, esse reconhecimento carrega uma dimensão política muito simbólica e representa uma conquista não só para mim, mas para a cultura popular e o povo de terreiro”, declarou a artista.

Coordenadora do Ponto de Cultura Coco de Umbigada, Mãe Beth, há mais de 30 anos, tem promovido ações de impacto social em Guadalupe. É do Beco da Macaíba, que virou reduto das sambadas que produz mensalmente, que a ialorixá pauta debates sobre urbanismo, meio ambiente, tolerância religiosa, diversidade entre outros temas. Na companhia do esposo Quinho dos Caetés e dos quatro filhos, já viajou todo o país apresentando a sambada de coco que atravessou gerações da sua família.

Educadora, Mãe Beth também dedica parte da sua atuação à fomentar ações que possibilitem a formação da juventude negra e pobre do Guadalupe e entorno. À frente do LABCOCO – Laboratório de Tecnologia e Inovação Cidadã, que atua articulado com diversas parcerias, entre universidades públicas e privadas, oferece cursos e oficinas que unem ferramentas tecnologícas e ancestralidade para gerar emprego e renda para a comunidade e previnir a violência. “Precisamos colocar os nossos juvens dentro da matrix da Tecnologia, precisamos ensinar as ferramentas para que eles dominem e transformem o mundo a partir de suas vivências”, pontua.  

Regente espiritual do Terreiro Ilê Axé Oxum Karê, que funciona no térreo do Ponto de Cultura, Mãe Beth já foi vítima de intolerância religiosa e sempre buscou dialogar com a sua comunidade por acreditar nas transformações que se dão no cotidiano. Ela também destaca que, para além de um título governamental, são as comunidades que resguardam os brinquedos e tradições populares e os mantém vivos. 

“A voz das mulheres negras precisa ecoar. O terreiro é lugar de resistência e o território é a base onde tudo acontece. Precisamos nos voltar para o território, que é onde acontecem as revoluções”, defende a artista, que já foi condecorada com a Ordem do Mérito Cultural, concedido pelo extinto Ministério da Cultura.

Leia também: ‘Jesus virou moeda de troca para políticos fundamentalistas’, diz mãe Beth de Oxum

Reconhecimento

O título de “Patrimônio Vivo de Pernambuco”, que é concedido anualmente, elege homens e mulheres que, individualmente ou junto aos seus coletivos, mantêm tradições centradas na oralidade, criam redes de compartilhamento e aprendizado pautados na valorização dos conhecimentos técnicos e das vivências, intercâmbios e histórias que são passadas para novas gerações de acordo com os contextos específicos de suas comunidades.

Dentre os mais de 90 candidatos (as) desta edição, além de Mãe Beth de Oxum, foram selecionados Mestre Luiz Antônio (Barro-Caruaru), Maria Jacinta Sampaio da Silva (Mestra de Reisado – Santa Maria da Boa Vista), Marliete Rodrigues (Barro – Caruaru), Velho Xaveco (Pastoril – Recife) e Caboclinho União 7 Flexas (Goiana).

O Registro do Patrimônio Vivo de Pernambuco tem por objetivo oferecer apoio financeiro e a preservação dos processos de criação e divulgação de técnicas, modos de fazer e saberes das culturas tradicional ou popular pernambucanas mediante atividades, ações e projetos desenvolvidos por pessoas físicas ou jurídicas de natureza cultural. Até hoje, 75 Patrimônios Vivos foram registrados.

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