Como se preserva a memória de um dos maiores legados da cultura negra do Brasil e do sul global? A websérie “Andorinha” mergulha nos bastidores da organização do acervo Abdias Nascimento Ipeafro, reconhecido internacionalmente e inscrito no Programa Memória do Mundo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
A websérie traz depoimentos exclusivos em um olhar intimista, revelando o minucioso trabalho por trás da conservação desse patrimônio histórico e cultural que abriga, além do acervo documental, aproximadamente 3.500 livros em sua coleção bibliográfica, 600 obras artísticas e 20 mil imagens no acervo iconográfico.
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A websérie é uma produção do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO), organização fundada por Abdias Nascimento nos anos 1980 e que dá continuidade ao seu legado institucional. Resultado de um projeto apoiado pelo Instituto Ibirapitanga, a ação faz parte do processo de fortalecimento institucional iniciado em 2023 que marca uma nova fase no projeto de gestão e difusão do legado de Abdias Nascimento.
A websérie documenta processos técnicos e momentos relevantes para a Instituição, como o retorno e a acomodação das obras da coleção Museu de Arte Negra Ipeafro, que estiveram à mostra no Inhotim por quatro anos. Em quatro atos, a exposição integrou o Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra, uma parceria entre o Inhotim e o Ipeafro, de 2021 a 2024. Outro destaque da websérie é o Grupo de Trabalho que institui o Programa Abdias Nascimento: Memória, Patrimônio e Reparação. Essa iniciativa conjunta entre o Ipeafro e a Fundação Casa de Rui Barbosa reúne representantes de instituições públicas e da sociedade civil detentoras de acervos relacionados à cultura e à memória afrodescendente e dos povos originários e comunidades periféricas.
A série documental focaliza esses e outros momentos recentes da história do Ipeafro. Dirigida pela jornalista e comunicadora Duda Nascimento, focaliza o cotidiano de preservação do acervo, que reúne documentos, obras de arte, livros e registros de toda uma trajetória negra ao longo do século 20, passando pelas organizações criadas por Abdias Nascimento, como o Teatro Experimental do Negro (TEN), o Museu de Arte Negra e opróprio Ipeafro.
O título “Andorinha” foi escolhido coletivamente para a websérie por simbolizar a força do coletivo. As andorinhas voam juntas, de forma sincronizada e por longas distâncias, enfrentando grandes desafios, assim como o trabalho do Ipeafro, em rede, ao manter viva a memória de Abdias Nascimento. Ao longo de sete episódios, reunimos as vozes de pesquisadores, artistas e técnicos, destacando os desafios e as conquistas envolvidas na gestão desse valioso patrimônio.
Segundo a doutora em história social Clícea Maria Miranda, responsável pelo acervo documental e integrante da gestão colegiada do Ipeafro, a organização busca constantemente pensar a gestão e a difusão do seu acervo, que inclui o conjunto de obras bibliográficas, itens de natureza museológica, documentos impressos, iconográficos e audiovisuais. “A websérie, que apresenta o fazer cotidiano de tratamento e preservação do acervo, revela a diversidade profissional de sua equipe, reflexo da personalidade multifacetada de Abdias Nascimento, e o desejo de levar a frente o seu legado buscando a defesa de uma memória negra de luta e resistência”, explica.
A co-fundadora e atual presidente do Ipeafro, Elisa Larkin Nascimento, avalia que “com essa websérie, o Ipeafro registra um rico momento de sua evolução. Uma equipe mais robusta e os parceiros institucionais o permitem desenvolver novos aspectos do trabalho que vem realizando há décadas. A série mostra a atual equipe do Ipeafro rumo a um outro nível e registra de forma leve e dinâmica os processos técnicos e os trabalhos envolvidos.”
O primeiro episódio de “Andorinha” estará disponível no canal do Ipeafro no YouTube no dia 16 de junho, mês em que o Ipeafro celebra 41 anos de sua criação. Ao longo das semanas seguintes, sempre às segundas-feiras, novos episódios vão ao ar. A campanha de divulgação da websérie será feita nas redes sociais do Ipeafro.