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Primeira biografia sobre Conceição Evaristo retrata trajetória de resistência da escritora

Obra percorre os caminhos que tornaram a escritora uma referência de autoria negra ao passo que esmiúça sua vocação para a literatura
Imagem mostra Conceição Evaristo, idosa negra retinta e de cabelos grisalhos. Ao fundo, há uma planta grande.

Foto: Leonor Calasans

17 de novembro de 2024

A escritora e professora Conceição Evaristo ganhou sua primeira biografia. Escrita pela jornalista Yasmin Santos, “Conceição Evaristo: voz insubmissa” faz parte da Coleção Brasileiras, publicada pela editora Rosa dos Tempos, e percorre os caminhos que tornaram a escritora uma referência de autoria negra ao passo que esmiúça sua vocação para a literatura.

“Estou ligada a Conceição Evaristo pelo encantamento – estético, político, da ordem do mistério e do afeto”, assim Yasmin Santos inicia esse perfil. Nesse encontro entre duas gerações, a biografia entrelaça a história de Yasmin com a de Conceição, fazendo da obra um retrato da escrevivência dessas duas mulheres negras através de depoimentos exclusivos e uma ampla pesquisa sobre a escritora que mudou a literatura brasileira.

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Atualmente consagrada como uma das mais influentes literatas do movimento pós-modernista no Brasil, Conceição tem uma trajetória marcada pela herança de um lar formado por uma família negra de domésticas, em que desde pequena foi ensinada o valor e a riqueza das palavras.

Nascida na comunidade do Pindura Saia, em Belo Horizonte, em 1946, a famosa escritora é a segunda filha de nove irmãos. Desde cedo, sua mãe, Dona Joana, incentivou a filha a se dedicar aos estudos, da onde, futuramente, nasceria a sua paixão pela escrita. Na obra, Yasmin destaca a importância das figuras maternas tanto na sua quanto na vida de Conceição.

Para a autora, os papéis femininos desempenham um dos arquétipos mais poderosos da literatura e Conceição, por sua vez, busca desconstruir a idealização branca dessa figura, oferecendo às mulheres negras todas as complexidades e imperfeições que fazem delas pessoas com histórias de resistência, dor, alegria e invenção.

Criada na periferia mineira, Conceição revela em suas obras uma realidade social precária que foge ao padrão de uma “alta” literatura e se enquadra nas urgências da contemporaneidade. A biografia acompanha também sua mudança de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, cidades que exerceram (e ainda exercem) forte influência na sua construção como mulher e escritora.

Yasmin descreve momentos cruciais na vida de Conceição, como sua época de escola, o ingresso na Juventude Operária Católica (JOC) e sua aproximação com o movimento negro no Rio, períodos essenciais para o refinamento de sua consciência política, além de sua jornada como professora. 

Com sensibilidade e sutileza literária, o perfil mergulha nas memórias e nas influências da renomada escritora, que vai do seio familiar à Carolina Maria de Jesus e Angela Davis. Na literatura negro-brasileira contemporânea, a escritora mineira desempenha o verdadeiro papel de insubmissão ao confrontar as expectativas que a sociedade impõe às meninas negras e pobres através do seu espírito inquieto e questionador.

No Brasil inebriado pelas marcas da escravidão, Conceição desperta nas mulheres, como a própria autora deste ensaio biográfico, a esperança da transformação através da ficção. Com obras consagradas, como  “Ponciá Vicêncio”, “Olhos d’água” e “Becos da memória”, a sua escrita insubmissa é um reflexo de quem lidava com a pobreza material por meio da riqueza imaginativa. Entre a fé, os amores – maternos e românticos – e a vida acadêmica e docente, “Conceição Evaristo: voz insubmissa” exprime os sonhos de tantas meninas negras pelo país.

A obra divide com o leitor a história de uma escritora que, entre as ruas mineiras e cariocas, não se sentia pertencente a nenhum lugar até achá-lo nas palavras. Conceição e Yasmin, ambas com sua insidiosa doçura, representam o que é ser um espirituoso ponto fora da curva.

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