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Xande de Pilares celebra suas raízes em álbum gravado onde iniciou a carreira

Sambista cria espetáculo grandioso e emocionante na mesma roda de samba onde começou na década de 1990; álbum resgata a obra de grandes músicos

Xande de Pilares canta no pagode da Tia Gessy

Foto: Imagem: Roberto Augusto/Divulgação

5 de abril de 2022

O sambista e compositor Xande de Pilares, de 52 anos, pode dizer que o seu encontro com a música teve dia e local marcados. Foi no quintal da Tia Gessy, em Cachambi, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, em um dia 20 de janeiro, no início da década de 1990, que o músico pegou pela primeira vez em um cavaquinho.

A roda de samba da casa da Tia Gessy era muito mais que um encontro de músicos e diversão, naquele quintal a magia da música tomava forma e para Xande, nascido e criado na favela do Jacaré, também na zona norte, virou sua grande paixão.

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“Devo muito ao pagode da Tia Gessy e fico muito feliz em poder prestar essa homenagem a ela em vida. Demonstrando todo o meu amor e gratidão por ela e pelo samba”, destaca o músico, em entrevista à Alma Preta Jornalismo.

Xande de Pilares acaba de lançar o álbum “Pagode da Tia Gessy – Que Samba Bom”, com 30 músicas gravadas no mesmo local onde o sambista começou sua formação musical.

Segundo ele, naquela época os sambistas gostavam de tocar as músicas dos anos 1960 e 1970, de grandes compositores, que hoje compõem uma compilação de resistência cultural e celebração da cultura e ancestralidade afro-brasileira.

“Antigamente a gente não tocava só os sucessos. Em uma semana ou menos, os músicos ‘tiravam’ todos os sambas dos discos que eram lançados para tocar na roda. Era um prazer poder mostrar que a gente sabia todos aqueles sambas, que fazem parte da história da cultura do Brasil”, conta.

Na roda de samba, Xande se sente à vontade e transporta para o álbum a alegria de estar cercado de amigos para homenagear grandes nomes como Almir Guineto, mestre André, Arlindo Cruz, Wilson Rodrigues, Leandro Lehart, Gonzaguinha, Luverci Ernesto, Aldir Blanc, entre outros gênios.

“Uma vez a tia Gessy me falou que todo mundo que passou pelo pagode fez sucesso e é verdade”, recorda o sambista, que praticamente saiu da roda da Tia Gessy para fazer parte do Grupo Revelação.

Este ano, o pagode da Tia Gessy completa 45 anos. Para Xande, o local onde acontece o pagode é como uma extensão de seu quintal de casa.

“Meu avô dizia que a escada só existe porque tem o primeiro degrau e quem sabe de onde veio também sabe onde quer chegar”, diz.

Xande de Pilares e Tia Gessy. | Foto: DivulgaçãoXande de Pilares e Tia Gessy. | Foto: Roberto Augusto/Divulgação

Resistência da cultura do samba

O álbum é um passeio pela memória afetiva do compositor, onde é resgatada a história de batuqueiros e músicos de diversas gerações do Pagode da Tia Gessy, que continua a acontecer com a mesma alegria, energia e empolgação.

“Sou uma pessoa muito musical e a minha história é muito longa. Para este projeto eu juntei 150 músicas e gravei 80 delas. Tem muita coisa boa que ficou de fora. Para ter uma ideia de como estava bom, a gente conseguiu encher todo o HD e não tinha mais espaço para gravar”, conta Xande, aos risos.

Para o músico, o samba tem um poder muito grande de entrar na mente e no coração das pessoas para fazer a denúncia das desigualdades e debater questões raciais.

“Tinha essa época em que não se podia nem andar com um pandeiro na mão, tamanha era a perseguição. Daí vem a resistência, vem a luta e o samba nunca vai deixar de falar dessas coisas para que as pessoas se conscientizem”, comenta.

Além de aprender e tocar grandes clássicos do samba, foi no pagode da Tia Gessy que Xande de Pilares começou a apresentar suas primeiras canções e encontrou os seus primeiros parceiros.

Compor e se aproximar artisticamente de outros compositores fez parte da rotina de Xande durante o período de isolamento provocado pela pandemia da covid-19.

“Eu sempre pensei coletivamente e a música é coletiva. Uma coisa que me incomoda, por exemplo, é que agora não tem mais a ficha técnica nos lançamentos com os nomes dos músicos que tocaram. Temos que valorizar os músicos. Eles sofreram muito sem trabalho na pandemia e eu espero que daqui para frente fique melhor para todo mundo”, conclui o sambista.

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