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Brincando com o amor

A literatura erótica voltada para o público negro é uma forma de descontruir estereótipos racistas. Confira o artigo do colunista Akins Kintê

Texto: Akins Kintê | Imagem: Depositphotos

Casal preto se beijando

Foto: CREATOR: gd-jpeg v1.0 (using IJG JPEG v62), quality = 85

25 de junho de 2021

– Bem?

– Oi mozão. 

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– Cê me ama?

– Já perguntou três vezes hoje. Amo muito. 

– Eu também preto. Te amo muito.

 

– Bem!

 – Oi amô.

– Te amo muito preto.

– Tô ligado, gatona. Fala o que quer falar vai?

 – Cê tem vontade de sair com outras?

– Eu? Lógico que não. De novo isso?

 – Hum.

 – Dois.

 – Cê me ama?

 – Porra mulé, te amo pra porra.

 – Então não mente. Tem vontade de outras minas ou não?

 – Lógico que não.

 

-Tá bom, cê me ama, por que mente?

 – Mentindo não preta. Só quero tu, só tu memo.

 – Tá, mas sempre que a gente ver aqueles filminhos, você fica doido doido, já viu como entra em mim, com mais desejo?

 – Pra mim é a mema fita.

– Tá bom então.

– Bom sim, demais.

 

– Deixa eu abrir meu zoio amô.

 – Não. Só fantasia ae.

 – Preta maluca.

 – Aquela que você viu no filme, aqui com você.

 – Tô leve amô, acabamos de namorar. Só você negona.

 – Fica quieto puto. Você beijando a boca bonita dela, Cherokee o nome dela, né?

 -Sim amor, Cherokee e tem a Pinky também.

 -Só a Cherokee, ceis dois aqui, ouvindo um som, já trocando uma carícia da hora.

 – Um afeto bacana?

 – Isso, mas putaria mesmo.

 – Será amor?

 – Olha como tá duro de novo? Se me ama por que mente? Porra.

 

– Tá bom preta e você me ama?

– Pra caralho.

 – Tem vontade da sair com outros manos?

– Não.

 – Tô ligado, perguntei por perguntar.

 – Mas tenho vontade de… Por que tá me olhando assim?

 – Do que?

 – De sair com você e outro cara.

 – Puta que pariu, tipo menage, essas fita?

 – Isso amor, adoro imaginar.

 

– Preto, você ainda me ama?

– Hum.

 – Você conseguiu mostrar um pouco do que é. eu fui me abrir pra você entrar mais em mim, e aí, nem sabe se me ama.

 – Amo. Esse papo trouxe labirintos. Tô aqui refletindo.

 – Vamos mentir pra nós quanto tempo? Já tamo namorando um bom tempo.

 – Mas pensar você e outro cara é treta.

– Tá bom, deixa que eu sonho.

 – Cê e outro mano?

 – E você também.

 – Sem quadrado sem o tal?

 – Triângulo assim tá bom

 – Só sorriso sem bau, bau

 – O fluxo assim é bom, vamô preto, olha como tô?

 – Toda melada, gostou da ideia?

 – Gostei dos teus olhos cada dia mais nus, brincando comigo.

 

– Mô sei que você ama e agora?

 – Preto bora dançar, espraiar esse mar lado a lado, como vem sendo.

 – Estamos plantando cumplicidade cada vez mais, né?

 – Não fala assim me pegando não…

 – Bandida olha nós envolvido mais um ano.

 – Gostoso, entra tudo…

 – Quer outro aqui né?

 – Não fala…..

 – Então sonha.

 – Te amo muito.

 – Gostoso te namorar. Te amo também.

 – Feliz dia pra nois preto.

Akins Kintê é um poeta, músico e escritor paulistano conhecido por seus versos marcados pela negritude. Em 2020, lançou seu terceiro livro “Muzimba, na Humildade sem Maldade” e também colocou nas ruas o EP “Abrakadabra”.

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