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‘Poesias Pós Parto’, de Priscila Obaci, é a maternidade negra em primeira pessoa

O livro, à venda no site da Oralitura, traz uma discussão importante a partir do ponto de vista de uma mulher que traz vida e, com ela, toda a agitação e energia que move o feminino - corpo negro que carrega a ancestralidade

Texto: Akins Kintê | Imagem: Nana Prudencio
 
MultiArtista, educadora e escritora Priscila Obaci

23 de setembro de 2021

Priscila Obaci é uma árvore frutífera: em alguns momentos brota de seu coração doces frutos eternizados nas ruas de São Paulo. E, quando não está brotando seus próprios frutos, fortalece semeando e regando outros sonhos. Uma das fundadoras da Capulanas Cia. de Arte Negra, coletiva de mulheres negras, ela constrói, ali do Lado Sul de Sampa, um espaço que lhe permite contar histórias como sujeito, a partir do próprio ponto de vista.

Desde 2007, Obaci e suas manas vêm desenvolvendo peças teatrais, documentários e livros. Além de atuar, ela é dançarina e co-fundadora do Instituto Umoja que, dentre tantas atividades, organiza a Noite dos Tambores. Mulher multiartista, Obaci se doa por inteiro atuando, dançando, arte-educando e também sendo uma baita poeta. 

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Ela participou de algumas antologias como Pretemuel de Chama e Gozo – Antologia da Poesia Negro-brasileira Erótica, de 2015, com organização minha e de Cuti Silva, da editora Ciclo Contínuo. Além de A Calimba e a Flauta-Versos Úmidos e Tesos, uma parceria com o Allan da Rosa, de 2012, da Edições Toró. Espaços em que Obaci eterniza uma interessante marca como escritora.

 “A escrita sempre foi um mundo mágico na minha vivência, fui alfabetizada bem cedo e logo iniciei o processo de leitura do mundo. Aquariana, sempre muito curiosa, queria saber de onde cada coisa vinha e para onde ia”, diz a autora.

Poesias Pós Parto é sua mais nova obra que, em julho de 2021, completou um ano de vida. O livro, em que a autora escreve momentos importantes sobre morte e renascimento, vem dando passos significativos em nossos corações leitores: “Primeiro quando eu nasci, segundo quando deixei meu cabelo crescer natural, terceiro quando iniciei no Candomblé e quarto quando fui mãe pela primeira vez. Muita coisa em mim morreu”, podemos ler em um dos trechos.

A obra, que está à venda no site da Oralitura, tem capa de Martinha, do Grupo de Teatro Clarianas, diagramação de Cassimano e ilustração da própria Priscila, que nos apresenta outra vertente de seu talento. 

O livro traz uma discussão importante a partir do ponto de vista de uma mulher que traz vida e, com ela, toda a agitação e energia que move o feminino – corpo negro que carrega a ancestralidade: “Eu me fiz portal de suas travessias / Para morada na Terra / Orum e Ayê conectados pelo ventre / O entre / Tempo que atravessa espiritualidade / a vida que se cria e não erra / Vocês me fizeram caminho da ancestralidade.”

Priscila Obaci traz beleza, mas também não maquia as dificuldades, não romantiza a sobrecarga que é dar a luz: “a gente vive em uma sociedade que parece que ser mãe é ser punida”, diz no poema “Amo ser mãe. Mas Odeio”. No texto, ela deixa evidente todo o peso que ficou para as mulheres, e que essa noção de maternidade não vem de uma perspectiva afro-ameríndia: “O filho é da mãe quando está dentro do ventre, quando ele sai a responsabilidade é todo mundo”. 

A obra da Obaci é lugar de fala, primeira pessoa, mulher preta, que não nos ausenta da leitura. Enxergamos nas Poesias Pós Parto nossas companheiras, nossas irmãs, nossas mães, avós, tias e como ela mesma diz: “vamos olhar pra essa mãe aqui, vamos dividir, vamos somar, vamos multiplicar essa responsa, vamos entender que o cuidado está além de parir”.

Obrigado, Obaci.

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