PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Alma Preta vai a Paris como 1ª mídia negra independente brasileira a cobrir as Olimpíadas

A sete dias da primeira disputa da competição, time da agência especializada em temática racial se prepara para a cobertura. É a primeira vez que uma mídia do tipo é oficialmente credenciada
As competições das Olimpíadas 2024 em Paris vão acontecer em locais históricos da Cidade Luz, como aos pés da Torre Eiffel.

Foto: Bertrand Guay / AFP

19 de julho de 2024

Primeira mídia independente do Brasil a cobrir os Jogos Olímpicos in loco e credenciamento, a Alma Preta vai a Paris nos próximos dias para trazer um olhar diferente do que as mídias tradicionais costumam oferecer na competição, considerada o maior evento da humanidade.

Essa é a visão de Marcelo Moreira, jornalista e sócio-diretor da DiversaCom, agência de diversidade do Grupo Textual. Com uma trajetória profissional de 30 anos, sendo os últimos 24 na TV Globo, ele compartilha sua experiência de repórter e diretor de redação em parceria com a Alma Preta na cobertura dos Jogos Olímpicos, auxiliando a equipe a contribuir com a democratização da informação nas Olimpíadas.

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

A sete dias da primeira disputa da competição, Moreira afirma que o cenário da imprensa no Brasil e no mundo está se transformando, pois a internet provocou uma disrupção no modelo de negócios da mídia hegemônica e isso deu espaço para o surgimento de uma grande diversidade de novos veículos de informação.

“Estou muito animado, muito feliz por fazer parte desse projeto. Eu trabalhei em quatro Copas do Mundo em países diferentes — na França, na Alemanha, na África do Sul —, trabalhei como repórter em Paris, em 1998, e sempre foi muito legal, mas essa experiência está sendo a mais bacana de todas, porque estamos construindo uma história com a Alma Preta, é diferente de você ir com uma mídia consolidada que já faz isso sempre”, expressa o jornalista.

Taciana Pinto, da equipe de desenvolvimento esportivo do Comitê Olímpico do Brasil (COB) é fotografada pela equipe da Alma Preta no centro de treinamento organização, Rio de Janeiro, 27 de junho de 2024
Taciana Pinto, da equipe de desenvolvimento esportivo do Comitê Olímpico do Brasil (COB), é fotografada pela equipe da Alma Preta no centro de treinamento organização, Rio de Janeiro, 27 de junho de 2024 (Solon Neto/Alma Preta)

A fala de Marcelo ganha força quando olhamos para os dados. Em 2017, o Media Ownership Monitor chegou ao Brasil e, em parceria com o Coletivo Intervozes, lançou um levantamento histórico que mapeou os veículos de comunicação de maior influência no território nacional, com os grupos que os controlam.

Intitulado “Quem controla a mídia no Brasil?”, o estudo mostrou que 50 dos maiores veículos de comunicação do nosso país pertencem a apenas 26 grandes grupos econômicos. 

“A internet provocou uma disrupção no modelo de negócios da mídia hegemônica e isso deu espaço para o surgimento de novos veículos de informação. E a Alma Preta é exemplo de uma mídia independente responsável, séria, que faz um trabalho muito importante para a sociedade, de trazer uma narrativa que a gente não via na mídia tradicional”, explica o ex-diretor da TV Globo. 

“A possibilidade de ter essas mídias independentes fazendo coisas iguais às que a mídia tradicional faz, essa é a simbologia maior de você ter a Alma Preta cobrindo os Jogos Olímpicos. Você ter uma cobertura dessa magnitude feita por uma equipe de jornalistas independentes de periferia do Brasil é muito simbólico. Então esse é o foco. Era um sonho”, compartilha o jornalista.

Elaine Silva, sócia e diretora da Alma Preta, no estande da agência durante o 19º Congresso de Jornalismo Investigativo da Abraji, em São Paulo, 13 de julho de 2024
Elaine Silva, sócia e diretora da Alma Preta, no estande da agência durante o 19º Congresso de Jornalismo Investigativo da Abraji, em São Paulo, 13 de julho de 2024 (Patrick Silva/Alma Preta)

‘Estamos construindo uma história’

Para tornar esse desejo real, o time da agência especializada em temática racial composto pelos jornalistas Solon Neto, cofundador e diretor de comunicação, Vinicius Martins, cofundador e gerente audiovisual, Elaine Silva, diretora financeira e Iacy Correia, gerente de comunicação e criação de conteúdo, passou por uma série de preparações com grandes nomes da cobertura esportiva.

Marcelo afirma que convidou jornalistas consagrados para realizar mentorias com o grupo. São nomes como Paulo César Vasconcelos, Claudio Nogueira e Veridiana Sedeh, além de Marcos Uchôa, repórter que mais cobriu Olimpíadas no Brasil e Saint-Clair Milesi, jornalista brasileiro que fez parte do Comitê organizador dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e hoje reside em Paris.

Equipe da Alma Preta em conversa com o jornalista Paulo Cesar Vasconcellos, na preparação para a cobertura das Olimpíadas, no Rio de Janeiro, em 13 de junho de 2024
Equipe da Alma Preta em conversa com o jornalista Paulo Cesar Vasconcellos, na preparação para a cobertura das Olimpíadas, Rio de Janeiro, 13 de junho de 2024 (Divulgação/DiversaCom/Alma Preta)

Os representantes da Alma Preta também visitaram o Centro de Treinamento do Time Brasil, localizado no antigo Parque Olímpico, no Rio de Janeiro. Lá, eles conheceram diversas pessoas fundamentais para o sucesso dos Jogos, como o responsável pelas passagens de todos os envolvidos e o responsável pelas roupas dos atletas, que representam o foco da cobertura.

Outro ponto importante citado por Marcelo para a cobertura foi a conquista de credenciais oficiais Comitê Olímpico Internacional (COI) por meio do Comitê Olímpico do Brasil (COB) para os repórteres Solon Neto e Vinicius Martins, além do credenciamento disponibilizado pela prefeitura de Paris para o acesso a áreas restritas da cidade. “Também teremos acesso à Casa do Brasil em Paris, um espaço que vai ser um pedacinho do Brasil lá”, celebra.

O preparador físico Felipe Martins (à esquerda), em conversa à Alma Preta durante visita da agência ao centro de treinamento do Brasil, no Rio de Janeiro, 26 de junho de 2024
O preparador físico Felipe Martins (à esquerda), em conversa à Alma Preta durante visita da agência ao centro de treinamento do Brasil, Rio de Janeiro, 26 de junho de 2024 (Marcelo Moreira/DiversaCom/Alma Preta)

Elaine Silva também falou sobre a importância das parcerias comerciais para fazer com que essa cobertura aconteça. “A nossa cobertura das Olimpíadas conta com boas oportunidades de colaborações com as marcas, pois criamos um espaço para construção de narrativas e posicionamentos que atingem a audiência de forma singular, trazendo reconhecimento e empatia com quem consumirá os produtos Alma Preta, principalmente quando se fala da população negra e periférica”, relata.

Questionado pela redação sobre algum spoiler da cobertura, Marcelo assegura que os leitores podem esperar uma “cobertura diferente”, com materiais que não serão vistos nos grandes veículos, “com muita criatividade e ideias diferentes”. 

“Quando o avião que está levando o time da Alma Preta pousar em Paris, em 24 de julho, é o começo de um sonho que está se realizando, que é o sonho de ter a primeira mídia independente brasileira cobrindo os Jogos Olímpicos“, conta.

“E que seja a primeira de outras coberturas desse tipo, porque o que não vai faltar é evento para a Alma Preta representar e abrir as portas para outras mídias independentes, que vão ver que é possível e que acabou essa coisa da mídia hegemônica trazer toda essa informação”, conclui o jornalista e diretor da DiversaCom.

*Em uma primeira versão deste texto, o título apontava a Alma Preta como primeira mídia independente do Brasil a fazer a cobertura dos jogos. Na verdade, a Alma Preta é a primeira mídia negra do tipo a ser credenciada oficialmente para a cobertura. A alteração foi feita na mesma data da publicação.

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

  • Mariane Barbosa

    Curiosa por vocação, é movida pela paixão por música, fotografia e diferentes culturas. Já trabalhou com esporte, tecnologia e América Latina, tema em que descobriu o poder da comunicação como ferramenta de defesa dos direitos humanos, princípio que leva em seu jornalismo antirracista e LGBTQIA+.

Leia Mais

PUBLICIDADE

Destaques

AudioVisual

Podcast

papo-preto-logo

Cotidiano