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Em Paris, a carioca Rafaela Silva chega sonhando com o segundo ouro olímpico

Rafaela Silva foi o primeiro nome do judô, entre homens e mulheres,  a acumular os títulos mundial, olímpico e pan-americano. 
Imagem mostra Rafela Silva, atleta do judô brasileiro.

Foto: Wander Roberto/COB

26 de julho de 2024

No dia 29 de julho, a carioca Rafaela Silva tem um compromisso inadiável: o de buscar a segunda medalha olímpica de sua carreira, no tatame do Campo de Marte, em Paris. Primeira brasileira campeã mundial de judô, no Rio de Janeiro, em 2013, três anos mais tarde ela se tornaria, nos Jogos Olímpicos do Rio (2016), campeã olímpica da modalidade, na categoria 57kg, ao superar Dorjsürengiin Sumiyaa, da Mongólia. Mais tarde, em 2022, em Tashkent, no Uzbequistão, a atleta foi bicampeã mundial, e em 2023, em Santiago, conquistou o ouro nos Jogos Pan-Americanos, tornando-se assim o primeiro nome do judô, entre homens e mulheres, a acumular os títulos mundial, olímpico e pan-americano.

O pioneirismo de Rafaela Silva, porém, não se resume a isso. Sua conquista de 2016 foi também o primeiro título olímpico de uma atleta negra em esportes individuais. Nascida e criada na Cidade de Deus, comunidade carente do Rio mais conhecida por sua presença nas páginas policiais do que por citações nos noticiários esportivos, Rafaela, que é terceiro-sargento da Marinha, recordou, recentemente, em quadro do “Esporte Espetacular” que  quando criança, sequer sabia o que era judô. Esteve em dúvida entre futebol e dança, até que foi experimentar o judô na Associação dos Moradores da Cidade de Deus. 

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Mais tarde, começou a crescer na carreira quando foi acolhida no Instituto Reação, do ex-judoca e medalhista olímpico Flávio Canto.  Mais tarde, em Londres-2012, sua primeira participação olímpica, acabou desclassificada de um confronto nas oitavas contra a húngara Hedvig Karakas, por causa de um golpe considerado irregular. Rafaela Silva foi alvo de xingamentos racistas nas redes sociais. Sua volta por cima iria ocorrer no Mundial de 2013 e depois, nos Jogos de 2016, com um ouro em cada Conforme ela própria conta, a medalha de 2016 transformou a vida dela e a de sua família, sendo o seu maior orgulho até hoje.       

 No masculino, o primeiro homem de ouro da história olímpica brasileira foi o atleta negro Adhemar Ferreira da Silva, igualmente o primeiro bicampeão olímpico pelo Brasil, em Helsinqui (1952) e em Melbourne (1956). Foi também na ocasião o primeiro atleta sul-americano bicampeão olímpico em eventos individuais. Para que se tenha uma ideia da grandeza de Adhemar, vale lembrar que suas conquistas ocorreram antes mesmo dos dois primeiros títulos mundiais da seleção brasileira de futebol, na Suécia (1958) e no Chile (1962). 

Voltando ainda mais atrás no túnel da história, o primeiro atleta brasileiro não-branco na história olímpica esteve presente nos Jogos de Paris, em 1924, há exatamente um século e na mesma sede de agora:  Alfredo Gomes, do atletismo, que participou das provas de 5000m e do cross country. Era uma época em que os preconceitos raciais e sociais eram  fortíssimos no futebol, por exemplo, mas coube a Gomes – neto de escravos  – a honra de ter sido o porta-bandeira da delegação brasileira naqueles Jogos. 

A primeira participação de uma mulher negra brasileira nos Jogos Olímpicos se daria apenas em 1948, depois da Segunda Guerra Mundial, em Londres-1948, por meio da velocista Melânia Luz, no atletismo.   

Quando se olha ainda mais profundamente no passado olímpico, em relação à presença de atletas negros, o foco se direciona para a carreira do americano John Taylor, primeiro afro-americano a ter conquistado o ouro nos Jogos Olímpicos, na edição  de 1908, em Londres. Filho de ex-escravos, Dr. Taylor – como ficou conhecido mais tarde por ter-se graduado em veterinária – participou do vitorioso 4x1600m (prova não mais incluída nos Jogos). Tragicamente, ele acabaria morrendo no fim do mesmo ano, devido à febre tifoide. 

 Taylor, porém, não havia sido o primeiro negro nos Jogos. Isso ocorreu quatro anos antes, em 1904, em Saint Louis, nos EUA, realizada em paralelo à Exposição Universal de 1904.  Lá, os negros sul-africanos   Len Tawnyane e Jan Mashiani, mais conhecidos como Lentauw e Yamasani ou Yamasini, que estavam trabalhando na exposição,  foram convocados a tomar parte na tradicional maratona. Entretanto, como se estivessem sendo expostos num zoológico humano, foram obrigados a correr descalços e usando chapéus de palha. Tornaram-se alvos de chacotas e manifestações preconceituosas por parte do público presente aos Jogos, que àquela época, era obviamente de pessoas brancas, além de terem sido perseguidos, apenas eles, por dois cães que os retiraram do percurso correto por alguns minutos, de acordo com relatos da época. Mesmo assim,   Lentauw terminou em nono e Yamasani,  em 12º lugar.

  • Jornalista Cláudio Nogueira

    Claudio Nogueira, de 59 anos, é jornalista desde 1986, tendo trabalhado no Jornalismo Esportivo desde 1993. Cobriu as Olimpíadas de 2004, 2008, 2012 e 2016, as Paralimpíadas de 2016, a Copa do Mundo de 2014, dois Mundiais de Basquete, cinco edições dos Jogos Pan-Americanos e vários GPs de F-1, F-Indy e Motovelocidade. Autor de diversos livros, como Futebol Brasil Memória, Os Dez Mais do Vasco, Dez Toques sobre Jornalismo e Esporte – Usina de sonhos e de bilhões.

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