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Sem berço de ouro, mas com medalha dourada: Beatriz Souza é um espelho dos negros brasileiros

Numa edição das Olimpíadas em que tanto se tem falado sobre representatividade, o primeiro ouro verde e amarelo, tão sonhado, veio de uma mulher negra
Bia Souza vence israelense Raz Hershko e conquista a medalha de ouro na categoria +78kg.

Foto: Alexandre Loureiro/COB

2 de agosto de 2024

Rio de Janeiro, 2 de agosto. São 12h45, e faz menos de meia hora que o Brasil acabou de assistir, entre lágrimas, à conquista de sua primeira medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. E esse primeiro pódio dourado veio da cabeça, dos braços, das pernas, do coração e da negritude da judoca Beatriz Souza.

Numa edição das Olimpíadas em que tanto se tem falado sobre representatividade, o primeiro ouro verde e amarelo, tão sonhado, veio de uma mulher negra, na categoria acima dos 78kg, numa arena construída a metros do ponto turístico mais conhecido da França, a Torre Eiffel.

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Em emocionante entrevista à CazéTV, Beatriz expressou sua emoção pelo fato de ela, uma mulher negra, ter sido a primeira medalhista de ouro do Brasil: “Mulherada, pretas e pretos do mundo todo. É possível! Acreditem! A gente pensa que está pagando muito caro, mas vale a pena quando a gente consegue!”

Em entrevistas à mesma CazéTV e à TV Globo, Beatriz tocou num ponto importantíssimo para todos, em especial para a comunidade negra: a importância da família. Uma sólida base familiar foi e vem sendo fundamental para que ela alcançasse o seu sucesso.

“Eu consegui! Deu certo, mãe! Eu consegui! Eu consegui! Foi pela avó (falecida há dois meses). É para a avó, mãe. Eu amo vocês mais do que tudo. Eu amo vocês”, emocionou-se a judoca ao falar com a família por meio de chamada de vídeo em celular do repórter da Globo.

Criada em Peruíbe, litoral paulista, a agora campeã olímpica começou na modalidade aos sete anos, por ser muito “arteira”. Seus pais, Poseidon e Solange, seu marido, Daniel, e toda a família vibraram intensamente. Segundo a atleta, ela tem os melhores “paitrocinadores” do mundo, pelo apoio dado ao longo de toda sua vida e carreira. Conforme recorda, quando resolveu deixar o litoral para treinar em São Paulo, em busca de um sonho olímpico, a família lhe apoiou e apoia todo o tempo.

Beatriz Souza, mulher negra de 26 anos, que não nasceu em berço de ouro, é um espelho de tantos negros brasileiros, que sem quaisquer privilégios mergulham de cabeça em um sonho e dão a vida por ele. Mesmo não sendo os favoritos, os mais queridos, ou aqueles que são mais prestigiados ou que lideram as bolsas de apostas. Como a própria judoca, não tão badalada ou conhecida quanto outros atletas. Mas Beatriz está lá no topo do pódio, depois de ter calado a arena ao superar a francesa Romane Dicko, número um do mundo nas semifinais, e em seguida, vencer a israelense Raz Hershko na grande final.

Como a própria campeã olímpica afirma, “pretas e pretos do mundo todo, é possível!” Sim, é possível. E Beatriz pode provar isso, assim como a ginasta Rebeca Andrade, dona de quatro medalhas olímpicas em Tóquio-2020 e Paris-2024, e Rayssa Leal, do skate, prata em Tóquio-2020 e bronze agora em Paris-2024. Nesta sexta, 2 de agosto, Beatriz fez história. Ela subiu ao topo do pódio, a bandeira do Brasil esteve na posição de destaque e o Hino Nacional foi tocado em Paris, tudo isso por causa dela.

Beatriz Souza, grande Beatriz, parabéns, o mundo é seu!

  • Jornalista Cláudio Nogueira

    Claudio Nogueira, de 59 anos, é jornalista desde 1986, tendo trabalhado no Jornalismo Esportivo desde 1993. Cobriu as Olimpíadas de 2004, 2008, 2012 e 2016, as Paralimpíadas de 2016, a Copa do Mundo de 2014, dois Mundiais de Basquete, cinco edições dos Jogos Pan-Americanos e vários GPs de F-1, F-Indy e Motovelocidade. Autor de diversos livros, como Futebol Brasil Memória, Os Dez Mais do Vasco, Dez Toques sobre Jornalismo e Esporte – Usina de sonhos e de bilhões.

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