Antes do início do período eleitoral, a violência política contra políticos em exercício, pré-candidatos, parlamentares ou integrantes de governo já registrava crescimento em todo o Brasil. A pesquisa das organizações Terra de Direitos e Justiça Global, divulgadas na quinta-feira (3), aponta que um episódio foi contabilizado a cada 1,5 dia durante todo o ano de 2024.
A data de lançamento da pesquisa foi marcada pela tentativa de atentado contra a vereadora e candidata à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Tainá de Paula (PSOL). A parlamentar foi alvo de disparos contra seu carro, mas não foi atingida. Segundo o Instituto Fogo Cruzado, essa foi a 100ª ocorrência de ataque a tiros contra políticos na Grande Rio em oito anos.
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Conforme publicado pela Agência Brasil, em São Paulo, a candidata a vereadora da capital, Janaína Lima (PP), e Roberto Vensel, coordenador de campanha de um candidato a prefeito de Sumaré (SP), também foram alvo de ataques semelhantes no mesmo dia.
Os três casos exemplificam a tendência de crescimento apontada pelo relatório da Terra de Direitos e Justiça Global, que identificou uma alta de 130% nos casos de violência política e eleitoral neste ano, em comparação com o pleito de 2020. De janeiro a 15 de agosto de 2024, houve um total de 145 casos, dos quais 14 foram assassinatos. Entre os casos também há episódios de agressões físicas, ameaças, atentados, ofensas e invasões.
Essa é a terceira edição da pesquisa, que ao todo, analisou o intervalo de novembro de 2022 a agosto de 2024. As ameaças foram a forma mais recorrente de violência, correspondendo a 51,2% de todos os casos analisados. Cerca de 29,4% se referiam a ameaças de morte. O ambiente virtual foi o principal espaço onde as ameaças aconteceram, reunindo 52,3% dos registros.
Mesmo subrepresentadas nos cargos eletivos, as mulheres foram alvo de quase metade de todas as violências, somando 46% das ocorrências. A porcentagem representa o total de 107 casos. Ainda houve 15 casos de ameaça de estupro às parlamentares. Nenhuma ameaça de violência sexual foi registrada contra homens.
Em 73,5% dos casos, as ofensas contra mulheres ocorreram nos ambientes parlamentares, locais de atuação profissional ou atividades de campanha. Neste recorte, 80% dos insultos foram proferidos por homens cisgêneros que também eram parlamentares à época dos fatos.
“Desde a primeira edição da pesquisa é possível identificar que em anos eleitorais há um acirramento da violência política. Nos casos registrados percebemos uma naturalização da violência política dado os altos índices de assassinatos, atentados e ameaças. A pesquisa ainda identifica que a violência política atinge partidos de diferentes espectros políticos e afeta as mulheres de maneira desproporcional”, ressaltou a coordenadora de Incidência Política da Terra de Direitos, Gisele Barbieri, em nota à imprensa.