Candidata à prefeita de Belo Horizonte pelo PSOL construiu campanha baseada no feminismo e no antirracismo e defende chapa política negra para o enfrentamento às desigualdades
Texto: Caroline Nunes | Edição: Nataly Simões | Imagem: Divulgação
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Eleita em 2018 com mais de 160 mil votos, Áurea Carolina se tornou a primeira deputada federal do PSOL em Minas Gerais. Agora, a parlamentar natural de Tucuruí, no interior Pará, prestes a completar 37 anos no Dia da Consciência Negra, concorre à Prefeitura de uma das cidades mais importantes do país: Belo Horizonte.
Com uma campanha baseada no feminismo e no antirracismo, Áurea afirma que o apoio encontrado por ela nas periferias, coletivos e movimentos sociais é fundamental para alcançar bons resultados no pleito deste ano.
Para a candidata, é importante que mulheres negras, principalmente as que são mães, ocupem espaços de poder para que a “velha política”, baseada em sistemas de opressão como o machismo e racismo, seja substituída por ações que atendam a toda a população. “É da periferia para o centro que faremos a diferença, não o contrário”, defende.
De família simples, Áurea sempre estudou em escolas públicas da capital mineira e em 1999 entrou para o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), tornou-se vegetariana e passou a integrar o grupo de rap Dejavuh. A aproximação da cultura hip hop e periférica, segundo a candidata à prefeita, foi sua primeira escola de formação política.
Em 2004, durante a graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Áurea foi beneficiada por uma bolsa do programa GRAL (Gênero, Reprodução, Ação e Liderança), da Fundação Carlos Chagas. Dois anos depois, aos 23 anos, tornou-se conselheira municipal de juventude de BH pela regional Noroeste.
Galgando degraus nos movimentos sociais e dedicada aos estudos, Áurea foi contemplada por uma bolsa de estudos da Fundación, na Espanha, para uma especialização em Gênero e Igualdade na Universidade Autônoma de Barcelona. Em 2011, já de volta à capital mineira, integrou o Grupo de Trabalho de Mulheres Jovens da Secretaria Nacional de Juventude e se aproximou do movimento Fora Lacerda, voltado para denúncias acerca da gestão municipal.
Vereadora mais bem votada em seu primeiro mandato parlamentar por Belo Horizonte nas eleições de 2016, com 17.420 votos, Áurea alcançou a maior votação para a Câmara Municipal da capital dos últimos 12 anos, tornando-se a mulher com maior número de votos da história da cidade.
“Assim eu me prontifiquei a me candidatar pela primeira vez em 2016 à vereadora de Belo Horizonte e participei da construção coletiva que juntava lutadoras de várias origens e pessoas que trazem nos seus corpos as marcas das diferenças que hoje estão excluídas dos espaços de poder”, conta.
Visando alcançar locais de maior destaque na política e construindo de maneira progressista um governo que atenda às necessidades de minorias em geral – como a comunidade LGBTQIA+ e povos tradicionais, como os quilombolas – a deputada federal, tem atuado pelo reconhecimento e legitimidade das questões territoriais e culturais desses grupos.
“O Estado brasileiro precisa reconhecer, com a institucionalização de políticas públicas nas várias áreas, os direitos de indígenas, quilombolas, reinados, povos de terreiros e demais povos e comunidades tradicionais. Precisa também enfrentar a discriminação, as violências e a reprodução da desigualdade e do racismo institucional que esses grupos têm sofrido historicamente”, considera.
Em 2020, de volta ao pleito mineiro, e com um candidato a vice também negro – Leonardo Péricles (UP) – Áurea avalia que a formação de uma chapa política totalmente negra é o que faz a diferença quando se trata da pauta antirracista.
“O Léo tem uma história nos movimentos estudantis e outros coletivos. Assim, nossas lutas se entrelaçam e construímos uma chapa que mostra fatos que não podem mais ser ignorados: uma força antirracista, feminista e popular que visa estar nos espaços de poder de igual para igual. É isso que estamos buscando”, afirma.
Educação
Vinda de uma construção política popular, a campanha de Áurea tem priorizado melhorias para a vida da população mais pobre, com projetos que visam enfrentar as desigualdades socioeconômicas e educacionais.
Segundo candidata, a qualidade de ensino das Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs) é essencial para valorizar o trabalho dos professores da rede pública, pois essa qualidade foi prejudicada no atual governo municipal – com o número alto de escolas particulares – fato que desvaloriza os profissionais da área.
“Esse modelo de excelência sofreu sucateamento no governo Kalil. Temos que reconhecer que nossa cidade tem escolas públicas muito boas, apesar das dificuldades estruturais enfrentadas por professoras, estudantes e famílias. As desigualdades educacionais são uma reprodução do enorme abismo social brasileiro”, salienta.
Renda solidária e economia
Se eleita, Áurea adianta que a retomada da economia municipal será feita com a distribuição de uma renda solidária, que pretende atender um público maior que o beneficiário de programas sociais do governo federal, como o CadÚnico.
Além disso, a candidata também defende uma revisão da política tributária da capital mineira, de forma a aumentar a arrecadação de impostos a partir de um sistema progressivo de alíquotas que desonere a população mais pobre em detrimento daquela de maior renda. Áurea acredita na desburocratização e também no incentivo ao empreendedorismo como formas de impulsionamento à economia e geração de emprego.
Segurança pública
No legislativo, como deputada federal, Áurea defende políticas sociais de prevenção à violência, com base em um modelo de segurança cidadã, que tem como objetivo estabelecer estratégias para romper com a seletividade do sistema de Justiça e enfraquecer o Estado penal, priorizando alternativas de mediação de conflitos e práticas restaurativas.
Para contribuir com a segurança pública de Belo Horizonte, a candidata à prefeita pretende dialogar com grupos e entidades da sociedade civil dedicadas ao tema, especialmente a Coalizão Negra por Direitos, organização que reúne mais de 150 entidades do movimento negro.