Declaração racista do presidente já lhe rendeu um processo enquanto era deputado federal; a ação foi arquivada em 2019
Texto / Redação | Imagem / Reprodução | Edição / Simone Freire
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Na última semana o presidente Jair Bolsonaro voltou a ser criticado e denunciado por racismo devido suas declarações. “Deu umas queimadinha” e “tem oito arrobas”, medida usada em animais, foram falas destinadas a dois homens negros.
A primeira declaração foi feita em sua última conversa nas redes sociais, na quinta-feira (27), na qual chamou o deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ), conhecido como Hélio “Negão”, e comentou que o parlamentar era negro porque “deu uma queimadinha” quando nasceu.
“O Hélio é meu irmão que demorou pra nascer. Demorou 10 meses pra nascer! Deu uma queimadinha no Hélio aí. Se não, seria a minha cara”, disse o presidente.
Poucos dias depois, no sábado (29), ao participar, por meio de videoconferência, de um evento do Aliança pelo Brasil na cidade de Vitória (ES), o presidente recebeu elogios de um eleitor negro. “Bolsonaro, sou negão, votei em você e em 2022 vou votar de novo. Você é o melhor presidente do Brasil”, afirmou o eleitor.
Em resposta, Bolsonaro disse algo semelhante ao que já lhe rendeu uma acusação por racismo. “E você está com oito arrobas”, disse referindo-se à unidade de medida usada para alguns animais.
Esta não é a primeira vez que Bolsonaro se refere a pessoas negras como animais. Em abril de 2017, então deputado federal, Bolsonaro participou de uma palestra onde se referiu especificamente à população quilombola brasileira.
“Fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles”.
À época, então deputado federal, ele foi acusado pelo Ministério Público Federal de se valer das “expressões injuriosas, preconceituosas e discriminatórias” para “ofender, ridicularizar e desumanizar” estas minorias sociais ao associá-las “à condição de animal”. O processo foi arquivado no ano passado.
Em entrevista ao Alma Preta, a advogada e assessora jurídica da Terra de Direitos e da Coordenação Nacional de Quilombolas (Conaq), Vercilene Francisco Dias, lamentou a decisão.
“Nós, quilombolas, ficamos muito indignados, mas a decisão não nos surpreende já que temos um Poder Judiciário composto, majoritariamente, por homens brancos. A composição atual do Judiciário brasileiro dificulta muito a aplicação de penalidades raciais”, afirmou.