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Contrário à Consciência Negra, Sérgio Camargo coleciona ataques à data e ao movimento negro

17 de novembro de 2020

Em menos de um ano na presidência da Fundação Cultural Palmares, o jornalista fez do órgão de fomento da cultura afro-brasileira um meio para demonstrar suas discordâncias pessoais

Texto: Victor Lacerda | Edição: Nataly Simões | Imagem: Reprodução/Twitter

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O jornalista Sérgio Camargo, presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), órgão do governo federal responsável pelo fomento da cultura afro-brasileira, já protagonizou diversas ações e declarações contrárias ao 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, e ao movimento negro.

Entre as declarações mais recentes está a de que “o suporte da Fundação Cultural Palmares ao Dia da Consciência Negra será ZERO”, feita em sua conta no Twitter, em 4 de outubro. A data, até antes da chegada de Camargo ao órgão, era marcada por uma série de celebrações incluindo festividades no Parque Memorial Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas.

No site do órgão, consta apenas que “em virtude da pandemia da COVID-19, as comemorações do dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, serão realizadas de forma simbólica”.

A declaração feita em outubro não foi a primeira de Camargo contrária ao feriado. No fim de 2019, época em que foi nomeado pelo ex-secretário Especial de Cultura, Roberto Alvim, a imprensa noticiou uma série de publicações com conotação negativa feitas por ele nas redes sociais. Entre elas, uma que pedia o fim do Dia da Consciência Negra.

As falas levaram à Defensoria Pública da União (DPU) a pedir a suspensão da nomeação em razão de Camargo relativizar o racismo estrutural e os inúmeros malefícios do processo de escravização do Brasil. Uma das declarações polêmicas do gestor também foi de que no país o racismo era “nutella”, além de que a escravidão havia sido “benefíca” para a população negra.

Demissões, ataques à imprensa e às religiões afro-brasileiras

Já em fevereiro de 2020, quando teve o exercício do cargo autorizado pela justiça, Sérgio Camargo demitiu por telefone profissionais que atuavam no gerenciamento do órgão. O Alma Preta também apurou que funcionários foram demitidos no início da pandemia da Covid-19 por serem classificados pelo novo presidente como “esquerdistas”.

Meses depois, o gestor, que é ativo nas redes sociais, assim como o presidente Jair Bolsonaro, anunciou em sua conta no Twitter que junto à Fundação estava desenvolvendo um “selo não-racista”, que seria aplicado àquelas pessoas que possivelmente fossem vítimas de acusações “injustas” de racismo por parte de integrantes do movimento de esquerda no país.

Ainda nas redes sociais, Camargo utilizou seu perfil no Twitter para ofender o jornalista Pedro Borges, editor-chefe do Alma Preta, se referindo a ele como “defensor de bandidos”. Borges abriu uma ação judicial contra o gestor, onde alega inclusive que foi bloqueado por Camargo, o que prejudica sua atuação como profissional da imprensa.

Também neste ano, a Folha de S. Paulo divulgou que teve acesso a áudios de reuniões em que o presidente da fundação chama o movimento negro de “escória maldita”. Nos mesmos áudios, o gestor atacava às religiões de matriz africana. “Não vai ter nada para terreiro enquanto eu estiver aqui dentro, zero, nada. Macumbeiro não vai ter um centavo”, declarou.

Censura e retirada de homenagens a personalidades

O site da Fundação Cultural Palmares também foi usado por Sérgio Camargo para demonstrar suas discordâncias pessoais. Em junho, o gestor censurou biografias de personalidades negras que marcaram a história do movimento no país, entre elas Zumbi dos Palmares, o abolicionista Luiz Gama e a escritora Carolina Maria de Jesus.

As ações do presidente do órgão que mais têm gerado repercussão é a retirada de nomes de outras personalidades negras de uma lista oficial que a fundação mantinha em seu site. Para Camargo, nomes como o da ex-ministra do meio ambiente Marina Silva, o da atriz Zezé Motta e o da deputada estadual Benedita da Silva não cumpriam os “critérios de decência, dignidade, reputação ilibada, relevância histórico-cultural e mérito de homenageado”.

Em anúncio feito no último dia 10 de novembro, Camargo informou mais uma medida da fundação em relação à personalidades negras vivas que integram a lista de influentes na história racial do país. Publicada no Diário Oficial da União no dia seguinte, 11, a ação tem como objetivo realizar, apenas, homenagens póstumas e excluir nomes da lista como Elza Soares e Gilberto Gil.

“Novas personalidades serão incluídas em razão do mérito e da nobreza de caráter”, garantiu o gestor via rede social. Ele ainda definiu que a lista final com todas as alterações feitas por sua gestão será divulgada no dia 1º de dezembro.

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