Segundo a deputada estadual da Bahia e ex-candidata à prefeita da capital baiana, a eleição de Bruno Reis, candidato de ACM Neto, dá continuidade ao coronelismo que governa a cidade há décadas
Texto: Guilherme Soares Dias | Edição: Nataly Simões | Imagem: Carol Garcia
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A deputada estadual Olívia Santana chegou na noite de domingo (15) a um espaço reservado pelo PCdoB para acompanhar a apuração dos votos da eleição para a Prefeitura sorrindo e dançando ao som do seu jingle de campanha. A imagem contrastava com o resultado das urnas, que a colocava em quinto lugar, com 4,5% dos votos, apesar de ser apoiada por movimentos negros. O atual vice-prefeito Bruno Reis (DEM), afilhado político do atual prefeito Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), venceu no primeiro turno com 64% dos votos. Já Major Denice (PT), que era apoiada pelo governador Rui Costa do mesmo partido, ficou em segundo lugar, com 18,8% dos votos.
Olívia diz que não recebeu apoio real do governador Rui Costa ou do PT e de outros partidos. O PP indicou como vice o professor Joca Soares. A candidatura, segundo a ex-candidata à prefeita, foi feita apenas com dinheiro do fundo partidário e havia pressão para desistência, o que não ocorreu. Segundo ela, a campanha foi importante por ter falado das desigualdades sociais. “É uma cidade repartida. Denunciamos o racismo estrutural. Para quem lidou com a pobreza extrema isso é importante. Estou mais forte agora”, garante.
Segundo ela, a eleição de Reis dá continuidade ao coronelismo e carlismo que administra a cidade desde quando Olívia era criança e viu o avô de ACM Neto ser eleito e desapropriar a comunidade onde morava.
A ex-prefeitável diz que sai da eleição com “experiência gigante” e sabe da responsabilidade como agente política. “Há compromisso com pautas. Entramos em eleição sabendo o que ia acontecer. Estávamos entre duas grandes máquinas, construímos caminho. Não tínhamos estrutura milionária que esses caras têm. Podia ser o beco mais empobrecido, mas a marcado candidato do prefeito estava lá”, ressalta.
Para Olívia, a presença de pessoas negras nas eleições é “insurgente”. “Estou muito bem. Não me sinto derrotada. Preparei-me para enfrentar essas eleições, para ter a chance de existir nessas eleições. Nem sempre só a vitória importa. Queremos e merecemos a vitória. Gente como a gente sabe a importância. O que fizemos foi um passo. Tivemos que lutar para manter candidatura existindo. Não aguentava mais responder que seria candidata”, afirma, com lágrimas nos olhos e consolando uma assessora que chorava copiosamente.
“Tem uma coisa represada que é ancestral. Sabemos que nossa hora há de chegar. Ela só foi adiada, mas vai chegar”, frisou em seu discurso para militantes do partido que construíram a candidatura junto com ela.
A dificuldade das batalhas foi ressaltada no discurso assim como a necessidade da mudança. “Não tem luta fácil e ninguém aqui está enfrentando luta fácil. Toda vez que acharmos que está muito difícil temos que lembrar de quem morreu fazendo política na época da ditadura, ou dos negros açoitados na época da escravidão. Zumbi, que lutava pelos mesmos ideias, foi esquartejada. Nossa dor não é maior do que quem viveu o sistema da escravidão. Dói ver muitos negros votando neles. Tiveram votação estupenda em cima da pobreza. Não basta ser maioria numérica, é precisa ter consciência de que podemos nos transformar numa força e potência política”, discursou.
Vitória de Bruno Reis
A vitória do candidato do Democratas adia o projeto dos movimentos negros de ter a primeira pessoa negra eleita prefeita de Salvador, que tem cerca de 80% da população autodeclarada negra, o maior percentual entre as capitais brasileiras. A campanha denominada de “Eu quero ela”, que seria a Prefeitura de Salvador, tinha a candidatura de Olívia Santana e de Major Denice.
Denice tinha rejeição de parte dos movimentos por fazer parte da Polícia Militar e por ter sido indicada pelo governador do estado Rui Costa, deixando de fora a socióloga Vilma Reis, uma das líderes do movimento de mulheres negras que ajudou a pautar a necessidade de uma candidatura preta para a prefeitura.
O alto percentual de votos a Bruno Reis mostra a popularidade de ACM Neto, que passou os últimos anos fazendo obras na cidade para tentar o mandato de governador em 2022, seguindo os passos do avô Antônio Carlos Magalhães.
Na esquerda, houve ainda poucos vereadores negros eleitos para a Câmara Municipal. Entre eles, Silvio Humberto (PSB) que foi reeleito e Laina Pretas por Salvador (PSol) , que ganha o primeiro mandato. Figuras como Ângela Guimarães (PCdoB) e Marcos Rezende (PT), que eram apoiados por diferentes movimentos sociais ficaram de fora. Entre os vereadores negros mais votados, estavam figuras do Republicanos, partido de direita, como Ireuda Silva e Julio Santos.