“Apesar das mudanças climáticas já serem uma realidade, ainda convivemos com o negacionismo”. A afirmação foi realizada pela ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, durante evento paralelo do G20, em São Paulo, promovido pelo Grupo de Trabalho de Economia Digital, presidido pelo Brasil.
“Imaginem o quão grandioso [o negacionismo] é em relação aos povos indígenas na conservação e proteção ao meio ambiente”, questionou ao afirmar que é preciso combater as formas de desinformação, pois “qualquer mentira ou ódio disseminado, expressam um racismo e discriminação estrutural que está arreigada na sociedade”, disse, durante o evento na quarta-feira (1º).
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O painel “Integridade da informação como fundamento da luta contra a mudança climática” também contou com a presença de Angie Holan, diretora da International Fact-Cheking Network, de Marie Santini, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de Antonia Gawel, diretora global de Sustentabilidade e Parcerias do Google e João Guilherme Bastos dos Santos, diretor de Análise da Democracia em Xeque.
Sonia Guajajara reforçou a importância da lei 11.645, que torna obrigatório o estudo afro-indígena no ensino fundamental e médio, mas ressaltou que a legislação ainda não é efetiva, o que faz com que “acabem reproduzindo mentiras que fortalecem cada vez mais o preconceito”.
A parlamentar também pontuou que, para os povos indígenas, “uma mentira ou discurso de ódio, é questão de vida ou morte. Muitas dessas mentiras acabam gerando violência para além do racismo”.
Mídias locais reproduzem conteúdos de interesse predatório
Durante o debate, a pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marie Santini classificou o problema da desinformação na Amazônia Legal como “um problema sistêmico que não é isolado”, que começa na precariedade da cobertura da imprensa sobre esse tema.
Ao analisar quase 900 veículos de mídia local na Amazônia Legal, a UFRJ descobriu que a maioria tem um alto índice de reprodução de conteúdo. “Esse material é reproduzido tanto de assessorias de políticos locais, que têm interesse em alimentar esses veículos para fazer campanha para si mesmo, como agência de notícias ligadas ao agronegócio predatório“, explica.
No Mato Grosso, por exemplo, estado que mais produz mídia local, o índice de reprodução de conteúdo desses veículos chega a 95%, aponta a pesquisadora. Segundo Santini, esse cenário cria condições ideais para a desinformação.
Outro ponto trazido pela pesquisadora, é que a maior desinformação espalhada no Brasil é de que não é adequado tocar na questão ambiental, pois o PIB do país depende do agronegócio e, por isso, toda a população pagaria um preço muito caro. “Isso é absolutamente mentira. O agronegócio é responsável por 7% do nosso PIB, mas isso foi disseminado com a ajuda da mídia tradicional”, diz.
Povos indígenas não possuem representação igualitária
Para a ministra Sonia Guajajara, quando temas sobre o agronegócio são discutidos, os veículos de mídia tradicional “não colocam o contraponto de como o agro agride e destrói”.
“Essas informações são urgentes e precisam ser sintetizadas para que as pessoas saibam o risco que a humanidade corre hoje se não mudar esse modelo de produção”, diz Guajajara ao sinalizar que também é preciso ressaltar cada vez mais o quanto os povos indígenas contribuem para a preservação da biodiversidade.
Segundo a ministra, somente 5% da população é indígena, mas 82% da biodiversidade do planeta está dentro dos territórios indígenas, protegida por povos indígenas como um modo de vida com a relação que esses povos têm com a natureza. “E mesmo assim, nós não temos representação igualitária nas grandes mesas de debate”, denuncia.