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Oito a cada dez candidatas negras sofreram violência virtual em 2020

10 de novembro de 2020

Segundo pesquisa do Instituto Marielle Franco, as candidatas negras sofreram mais de uma violência e não tiveram apoio ou proteção ao pedir ajuda

Texto: Flávia Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil 

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A maioria das mulheres negras que se candidatou a cargos eletivos em 2020 sofreu algum tipo de violência no ambiente virtual. No total, 78% das candidatas negras de todas as regiões do país, que responderam à pesquisa Violência Política Contra Mulheres Negras, relataram ter sofrido desde xingamentos racistas em suas páginas até ataques sincronizados em transmissões ao vivo.

Os dados são do estudo realizado pelo Instituto Marielle Franco, com apoio da Terra de Direitos e Justiça Global, e divulgado em novembro. Os principais autores das violências são grupos não identificados (45%), candidatos ou grupos militantes de partidos políticos adversários (30%) e grupos anti-feministas, racistas e neonazistas (15%).

Dentre as vítimas de violência, apenas 32,6% relataram ter denunciado, 29% não quiseram denunciar, 17% tiveram medo ou não se sentiram seguras em denunciar e 8% das candidatas, apesar de a pesquisa ser anônima, não se sentiram à vontade para responder às questões.

Entre as candidatas que denunciaram, 31% usaram plataformas digitais e suas próprias redes sociais. Já 29% denunciaram ao próprio partido político e 29% registraram Boletim de Ocorrência (BO) em delegacia comum ou delegacia de crimes de informática.

Apesar da denúncia, 70% não teve segurança para o exercício da sua atividade político-partidária. Além disso, 71% delas, relataram não ter contado com nenhuma formação ou mesmo apoio para entender que medidas de proteção poderiam ajudar a enfrentar ou superar as situações de violência pelas quais passaram.

Segundo Anielle Franco, diretora executiva do Instituto Marielle Franco, a pesquisa tenta retratar o impacto que a violência política tem sob os corpos de mulheres negras candidatas nas eleições de 2020.

“É importante ressaltar que historicamente as mulheres negras que se colocam à disposição para concorrer ao pleito institucional têm sido recebidas por violências e opressões estruturais de raça, gênero e classe. Em nosso estudo, identificamos que quase 8 a cada 10 mulheres candidatas comprometidas com a Agenda Marielle Franco, que responderam essa pesquisa, apontaram que já sofreram algum tipo de violência virtual”, afirma Anielle.

“Por outro lado, do total de mulheres que sofreram violência política nestas eleições, apenas 32% efetuou denúncia. Esperamos que esta pesquisa ajude a visibilizar esse cenário no país e impulsione as autoridades públicas a pensar em medidas efetivas e imediatas de combate a essa violência que afeta mulheres negras das mais diferentes formas”, avalia a diretora.

Os dados fazem parte da versão preliminar do estudo, que tem como objetivo analisar o cenário da violência política eleitoral contra mulheres negras, que se comprometeram com a Agenda Marielle Franco, projeto também do Instituto, visibilizando o impacto que este tipo de violência tem sobre a vida política destas mulheres e buscando caminhos de superação e produção de medidas efetivas para a mudança desse cenário no âmbito nacional. Após o período eleitoral será lançada a versão mais ampla da pesquisa.

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