“Eu sou mais um rapaz comum da periferia brasileira que tem uma história que conta a história de muitas outras pessoas”. É assim que Renato Freitas, vereador e candidato a deputado estadual no Paraná pelo PT, se descreve.
Nos últimos meses, o nome de Renato Freitas repercutiu por todo o Brasil após ter o mandato cassado por fazer uma manifestação antirracista em uma igreja pelo assassinato do congolês Moïse Kabagambe e de Durval Teófilo Filho, morto a tiros por um sargento da Marinha que, supostamente, o teria confundido com um ladrão.
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Após meses de perseguição e ataques racistas na Câmara Municipal de Curitiba, recentemente, o vereador teve o mandato reestabelecido por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar da repercussão do caso, não foi a primeira vez que Freitas foi alvo, aliás, o racismo o marcou durante toda a vida, como conta o candidato à Alma Preta Jornalismo.
“Quando eu chego na Câmara de Vereadores essa perseguição continua. Tanto que, como vereador, eu fui preso duas vezes sem acusação nenhuma […] Talvez nesse trajeto todo da minha vida a minha principal especialidade tenha sido sobreviver e, por sobreviver, me fortaleci”, conta Renato Freitas.
Trajetória e propostas
A história de Renato Freitas começa na comunidade da Vila Macedo, ao lado do Complexo Penitenciário de Piraquara, região Metropolitana de Curitiba. Durante a maior parte da infância, Freitas e a família moraram em uma ocupação devido à falta de condições financeiras.
Filho de uma trabalhadora doméstica e mãe solo, Renato Freitas passou a trabalhar ainda na adolescência para ajudar na sobrevivência da família. Freitas chegou a parar se estudar, mas conseguiu concluir o ensino médio e passou no curso de Direito, em 2008, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde também se formou como mestre em Direito. Após esse período, Renato Freitas também atuou como defensor público e advogado popular até ser eleito vereador em Curitiba, em 2020.
Em seu mandato, agora como candidato a uma vaga na Assembleia Legislativa do Paraná, Renato Freitas aposta em propostas que atravessam a sua trajetória, como educação, segurança e, principalmente, o direito à moradia.
“O direito à moradia é uma das principais pautas antirracistas que a gente deveria levar no Brasil porque a ausência de teto, de terra, foi uma política planejada pelo estado escravocrata”, explica Freitas.
Segundo o candidato, é preciso que o país adote uma reforma agrária como mecanismo de emancipação e garantia de direitos para a população negra. “O dono da casa grande, o escravocrata, é hoje o latifundiário na maior parte dos estados. Para que a gente consiga atacar o poder escravocrata – que quer que as coisas estejam como estão porque sempre foram privilegiados por essa ordem de coisas – a gente tem que quebrar a concentração fundiária, a gente tem que retirar a terra das mãos deles.”
Na área da educação, o candidato defende a criação de um Espaço Educativo que, para além da educação tradicional, irá oferecer atividades extracurriculares voltadas ao desenvolvimento dos alunos em diversas áreas, como esporte e artes.
À Alma Preta Jornalismo, Freitas explica que a ideia é romper com o modelo de militarização das escolas e compreender as especificidades que atravessam os alunos e alunas.
“A escola não quer saber quais são os problemas que antecedem a sua entrada na escola: racismo, desigualdade sócio-econômica, traumas, das drogas, da falta de dignidade que é lançado ao nosso povo. A escola não quer saber de nada disso porque ela tende a uniformizar os alunos para poder dar um mesmo ensino sem atentar para a diferença de condições, e eu vivi muito isso”, comenta o candidato.
Para ele, é necessária uma uma política de integração entre a escola e as comunidades locais, a exemplo de um projeto de lei que ele tem desenvolvido em Curitiba destinado à capacitação de mulheres lideranças comunitárias para atuar no processo de ensino das crianças no ensino fundamental.
“Quem melhor do que as mães da comunidade para educar as crianças antes delas ainda estarem aprendendo a ler e escrever? Não se trata de substituir o método pedagógico tradicional, mas complementá-lo. Existem várias filosofias alternativas que vêm da Europa e que as pessoas valorizam, mas uma filosofia ancestral é desvalorizada”, ressalta.
Sobre as expectativas para as eleições, Renato Freitas destaca a importância de trazer a ancestralidade do povo negro dentro dos espaços de poder.
“Nós temos o dever ético de fazer do agora um momento de redenção. Quando o inimigo vence, não é só a nós que ele vence, ele vence os nossos ancestrais, os que vieram antes, porque o inimigo reescreve a história nos apagando dela, retirando o nosso protagonismo. Por isso tem que ser agora e tem que ser nós”, finaliza.
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