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Vereadora negra é acusada por deputado de ter relação com tráfico de drogas

O deputado Rodrigo Amorim (PSL-RJ) usou de seu discurso em plenário na na última terça-feira (1) para proferir acusações contra a vereadora Thais Ferreira (PSOL-RJ), como possível ligação com o crime organizado; ele ainda chegou a dizer que a parlamentar teria “cara de drogada”

Imagem mostra a parlamentar, de pele retinta, cabelo black power, de camisa clara e com a mão no queixo sentada em seu gabinete

Foto: Imagem: Reprodução/Facebook

4 de fevereiro de 2022

No Rio de Janeiro, a vereadora Thais Ferreira (PSOL-RJ denuncia um episódio de racismo e difamação após fala de um deputado estadual. Linha de frente da Mãedata Coletiva, a parlamentar teve seu nome e de outros colegas de partido associados a termos como “drogados”, “viciados” e “drogadiços”. As palavras foram proferidas pelo deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ) na última terça-feira (1), em sessão plenária, que associou a atuação da vereadora ao tráfico de drogas e o crime organizado. 

Rodrigo Amorim, segundo a assessoria da parlamentar, em outro momento específico de sua fala, teria feito alusão a aparência da vereadora, uma mulher negra com cabelo black power, para dizer que a mesma tem “cara de que gosta de droga”, complementando que Thais e a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) seriam “da mesma laia”, que procuram “tornar o roubo um meio de vida”.

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Em nota encaminhada à imprensa, a assessoria da vereadora afirmou que as palavras ditas pelo deputado cabem como crimes de potencial incalculável. “Uma vez que as mentiras contadas por ele passam a circular por redes com milhares de seguidores, qualquer indivíduo pode ser levado erradamente a crer que somos bandidos e, em função disso, agir contra nossa integridade e até tentar alguma coisa contra nossas vidas. Tais mentiras, inclusive, já tiveram impacto sobre membros da minha família, amigos próximos e funcionários do meu gabinete”, diz o texto. 

De acordo com sua equipe, o parlamentar ainda chegou a criticar e mentir sobre o programa “Partiu Praia” – que acontece de forma itinerante nas praias do Rio de Janeiro para educar sobre direitos e deveres dos frequentadores desses espaços ao longo do verão e proteger direitos de crianças e adolescentes, insinuando que a ação funcionaria para proteger atividades ilícitas.

Em vídeo encaminhado à redação, é possível identificar a fala de Rodrigo que afirma que a atuação da parlamentar visa criar obstáculos para que a segurança pública não realize operações na praia de Copacabana e aborde “vagabundos”, travestis, crianças e adolescentes, a quem o deputado se refere como “sementinhas do mal”, nas palavras dele. 

Em conversa com a Alma Preta Jornalismo, Thais Ferreira ressaltou a importância que as palavras sejam apuradas e julgadas, além de serem tidas como uma violência verbal que configura racismo. 

“Sabemos o quanto a lei que pune o racismo tem deixado de ser aplicada. O mesmo sistema de justiça que enche as prisões de pessoas negras, julgando de forma implacável, muitas vezes sem sequer audiência de custódia, é o que praticamente não pune o racismo e outros crimes de colarinho branco. Esse é um padrão de funcionamento da justiça brasileira. Então, nós acreditamos que, através do nosso mandato na Câmara dos Vereadores, podemos contribuir para criar uma pressão maior por mudança sobre isso”, pontua a parlamentar. 

Leia também: Ataques contra vereadoras negras são denunciados à Comissão Internacional

Questionada sobre como enxerga o cenário de perseguição contra mulheres negras na política, a vereadora afirma que há uma dificuldade ainda muito grande de viabilizar as candidaturas femininas, mesmo sendo as mulheres a maioria da população brasileira.

“Tentam nos compartimentar em uma pauta específica, como se fossemos um recorte dos assuntos e não pudéssemos falar de todos eles. Tentam silenciar nossas opiniões. No caso desse indivíduo, ele optou deliberadamente por polarizar contra as representações de mulheres negras, no universo de um conjunto de parlamentares dos quais vários são acusados de crimes gravíssimos. Se ele tivesse sido punido na primeira vez que foi racista para angariar votos, provavelmente não teríamos já tantas vítimas dos mesmos crimes e, também, algum desestímulo a essas práticas, que estão fora do campo dos debates”, acredita.

Thais ainda complementa sobre a importância de respostas como essa, que não deixam episódios de racismo passarem, podem ajudar na atuação e fortalecimento de mais pessoas negras na política. 

“Estamos movendo todos os esforços para que haja justiça, para que o padrão de funcionamento do sistema de justiça se mova na direção de condenar episódios de racismo, é principalmente para que o nosso povo tenha os seus direitos garantidos. Para que tenha inclusive o direito de se autorrepresentar na política e não sofrer violência e crime por parte de alguns parlamentares que não aceitam discutir as ideias conosco”, finaliza. 

No início da tarde, a vereadora esteve na sede do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) para registrar a denúncia contra o deputado para que o episódio siga sendo investigado. 

A Alma Preta Jornalismo entrou em contato com a assessoria do deputado estadual, mas, até o fechamento da publicação, não obteve posicionamento. 

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