Por: Andréia de Jesus, deputada estadual e presidenta da Comissão de Direitos Humanos da ALMG
Todos nós temos direito a um clima saudável. No entanto, o calor, o frio e os temporais estão cada vez mais extremos. Os efeitos da crise climática já são sentidos por todos, mas principalmente pelas comunidades mais pobres e periféricas, onde a maioria da população é negra e sofre com a falta de infraestrutura, saneamento básico, planejamento ambiental e urbano. Como consequência da exclusão social, nós, povo preto, somos os mais atingidos pelos impactos dos eventos climáticos e os menos atendidos na fila por socorro. Isso é racismo ambiental.
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Como deputada estadual venho discutindo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) a importância de estarmos preparados para uma emergência climática. A assembleia promove atualmente uma importante iniciativa de debate, por meio de um seminário, percorrendo várias regiões do estado. O objetivo é buscar soluções para lidarmos com as mudanças climáticas a longo prazo. A última etapa será realizada em Belo Horizonte, no mês de agosto.
Em Minas Gerais, nos últimos anos, temos experimentado temperaturas cada vez mais altas. A crise climática do Rio Grande do Sul trouxe à tona a urgência de planos e ações para mitigar as consequências de eventos climáticos extremos, mostrando que além de perder suas casas, lojas e as crianças estarem foras das escolas, as pessoas também perderam documentos, fotos e memórias afetivas que jamais serão resgatadas.
Segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB), a última década registrou um aumento significativo em recordes de enchentes e secas. De 2014 a 2023, houve 314 enchentes e 406 secas, comparado a 182 enchentes e 92 secas na década anterior. Não há como negar os fatos e os dados, a crise climática é resultado da ação do homem. As emissões de gases de efeito estufa que alteram a temperatura da atmosfera vem do uso dos combustíveis fósseis, atividades pecuárias, agrícolas, industriais e do desflorestamento.
Em todas as áreas devastadas por eventos climáticos é comum o desmatamento e a ocupação desordenada do solo, sem nenhuma preocupação com a natureza: o curso dos rios, a vegetação, o solo e o clima. O grande capital não se interessa em cuidar do meio ambiente. A prática é de exploração da terra, retirando suas riquezas, como os minérios, sem dar valor a vida humana e a sobrevivência no planeta.
A extrema-direita aliada às fake news ajudam a espalhar o negacionismo climático. Mas é cada vez mais evidente os danos que podemos sofrer se não houver uma ação clara e consciente dos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo para estabelecer limites à ganância do setor produtivo. Há muitos meios de gerar riquezas, emprego e bons produtos, trabalhando com novas e antigas tecnologias de cultivo e manejo na agricultura e na pecuária.
No estado de Minas Gerais, o nosso mandato tem atuado com ações efetivas para preservação do meio ambiente, fomentando por meio de emendas parlamentares a titulação dos territórios e o trabalho no campo das comunidades tradicionais quilombolas, povos de terreiro e indígenas. Estes povos guardiões da terra fazem uso de práticas agrícolas sustentáveis, que respeitam e não destroem a natureza, ajudando a manter a nossa biodiversidade e a regular o clima.
Cada cidadão também precisa compreender o seu papel nesta luta. Somos a maioria deste país e os mais atingidos pela crise climática. Os arquimilionários, banqueiros e grandes empresários, além de desmatar e poluir, ainda querem privatizar as nossas praias como o jogador Neymar.
Não haverá planeta Terra e vida humana se a nossa consciência e posição política não avançarem no sentido da preservação ambiental. É preciso lutarmos por uma justiça climática. Marte só é opção para o Elon Musk.