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‘Transição capilar muda o posicionamento das mulheres negras sobre o racismo’, diz psicóloga

7 de julho de 2020

Ivani Oliveira fez o primeiro estudo acadêmico na área da psicologia sobre a redescoberta dos cabelos crespos; durante o mês de julho, psicóloga vai ministrar curso online sobre o processo de transição capilar

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Arquivo pessoal

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A conscientização racial não é o principal motivo de as mulheres negras assumirem a real textura dos próprios cabelos, a chamada transição capilar após longos períodos de tratamentos químicos como alisamentos. Durante o processo de transição, no entanto, surgem indagações e revelações sobre o racismo e a construção do imaginário de beleza imposto socialmente. Dessa forma, as mulheres desenvolvem um empoderamento político e racial, conforme apontam pesquisas realizadas pela psicóloga Ivani Oliveira, vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.

“O discurso das mulheres depois da transição muda muito e o posicionamento delas também”, diz Ivani.

A textura dos cabelos crespos é uma marca evidente da negritude. Por conta disso, é alvo de muitos ataques racistas que geram traumas psicológicos, além de uma dificuldade social de aceitação e reconhecimento da própria beleza.

“Em virtude do cabelo crespo ser, reconhecidamente, um traço fenótipo de ancestralidade negra, as mulheres negras após a transição têm a negritude evidenciada. O processo de busca de informações e conhecimentos sobre a textura dos seus cabelos resulta em compreender seu pertencimento racial e que foram atingidas violentamente pelo racismo durante suas vidas”, explica a psicóloga.

Segundo Ivani, a maioria das mulheres negras decidem fazer a transição por questões ligadas ao desgaste, ao tempo e às privações sociais que a manutenção dos cabelos alisados demanda. Entre os relatos do estudo feito pela psicóloga, estão o de mulheres que se sentiram mais “livres”, “extrovertidas” e “abertas para as diversões da vida”. A opção pela transição também representou “uma quebra no ciclo geracional de alisamentos em suas famílias”.

“Em 2018, houve um aumento de mais de 200% na busca do google por cabelos cacheados e crespos. Foi a primeira vez que o tema superou as buscas por cabelos lisos. Foi então que decidi fazer a pesquisa para entender os motivos pelos quais as mulheres estavam deixando de alisar os cabelos e o que acontecia com elas depois disso”, conta a psicóloga.

Ivani encontrou relatos na websérie chamada “Mulheres em Transição” e fez uma análise a partir da psicologia social. Foi o primeiro estudo acadêmico na área da psicologia sobre a redescoberta dos cabelos crespos. O trabalho de mestrado foi concluído na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

“Usei como referência teórica a abordagem da psicologia discursiva e a teoria do posicionamento proposta pelo filósofo e psicólogo Rom Harré, que considera o self (eu) como uma construção social, produto das práticas discursivas nas quais as pessoas dão sentido ao mundo”, explica.

Curso no mês da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha

Durante o mês de julho, marcado por diversas ações alusivas ao 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela, a psicóloga Ivani Oliveira ministrará um curso online sobre transição capilar. A iniciativa vai contar com sorteio de algumas vagas gratuitas para aulas nos dias 10, 17, 24 e 31, das 18h às 19h30.

“Não se trata apenas de uma escolha estética, ou seja, uma tendência. É uma mudança de paradigma em que cabelos diversos são possíveis. Afinal, historicamente, o corpo negro, constituído como o ‘Outro’, definido como algo de menor valor, a partir de uma norma eurocêntrica, sofreu e ainda sofre violências diversas que atravessam sua aparência, forma, estética, incluindo o seu cabelo”, diz a psicóloga, que também faz parte da Organização Negra Kilombagem.

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