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Negros são menos de 4% dos profissionais em cargos de liderança em São Paulo

Levantamento também mostra que profissionais brancos ganham mais que os negros, mesmo ocupando o mesmo cargo; mulheres negras são menos de 2% dos profissionais em cargos de liderança no estado paulista
Imagem mostra mulher negra sentada em frente a um laptop.

Foto: Christina Morillo/Pexels

29 de julho de 2020

Por: Guilherme Soares Dias

Apenas 3,68% dos profissionais contratados para cargos em liderança eram negros (pardos ou pretos) no estado de São Paulo, em 2019. O levantamento foi feito pelo Quero Bolsa, plataforma de vagas e bolsas de estudo no ensino superior, com base nos dados do Cadastro Geral de Empregado e Desempregados (Caged). Foram analisadas todas as contratações de ocupações de direção e gerência de pessoas com diploma de ensino superior.

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Ao todo, no estado foram 58.083 admissões desse tipo. Dessas, 2.140 foram de negros (3,68%) e 41.042 (70,66%) de brancos. O levantamento também mostra que profissionais negros recebem menos que os brancos nesses cargos. O salário médio de um profissional branco foi de R$ 8.692,41, isso significa 8% a mais que os R$ 8.056,41 recebidos por profissionais negros.

A presidente e fundadora da EmpreAfro, Patrícia Santos, considera que os dados apresentados no levantamento são reflexo do racismo estrutural que impede pessoas negras de crescerem profissionalmente, mesmo com formação superior. “Está implícito no dia a dia de boicote, nas atividades de desenvolvimento desses profissionais dentro da empresa, na hora das promoções, quando há seleção para cargos de liderança em que líderes brancos escolhem outras pessoas brancas”, explica a executiva, em entrevista ao Alma Preta.

Patrícia destaca que os profissionais negros em cargos de liderança recebem menos que os brancos porque quando a branquitude permite que os negros cheguem no cargo da liderança não permite que os salários sejam os mesmos. A fundadora da EmpegueAfro lembra de uma pesquisa do Instituto Locomotiva, de 2018, que mostra que se não houvesse desigualdade salarial, a economia brasileira teria um ganho de R$ 800 bilhões por ano. “Não é só ser justo, correto, mas movimentar economia que precisa dessa representatividade. O racismo chega a ser burro, inclusive do ponto de vista capitalista”, afirma.

O aumento de líderes negros também pode trazer mais contratações de pessoas negras dentro das empresas, segundo Patrícia Santos. A executiva cita um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que mostra que no ritmo atual o Brasil só alcançará a equidade racial nos cargos em 150 anos. “Isso seriam as pessoas negras representadas no mesmo número que estão na população. Mas não dá para esperar esse tempo todo”, pondera. Há ainda um problema geracional, uma vez que os líderes tem mais de 40 anos e reproduzem o racismo de forma mais natural. “A geração com menos de 40 anos acompanhou o debate das cotas e tende a ser mais inclusiva”, acredita.

Mulheres negras são menos de 2% dos líderes nas empresas

O levantamento também revela que o percentual de mulheres negras em cargos de liderança no estado de São Paulo é ainda menor. Do total de 3,68% de profissionais negros nesses cargos, elas representam 1,45%, enquanto os homens negros são 2,24%. No caso das mulheres brancas, elas representam cerca de 30% dos 70,66% profissionais brancos em cargos de gerência. Os homens brancos são 39,77%. Em geral, do total de profissionais em cargos de liderança, 56,91% são homens e 43,09% são mulheres.

Patrícia conta ainda que são as empresas que entram em contato com a EmpregueAfro. “Elas sabem que o problema existe e querem corrigi-lo, mas há um racismo cordial, velado, educado, que algumas vezes recusa os candidatos negros que apresentamos. E como consultoria de recursos humanos, temos o maior cuidado ao fazer seleção. Nesses casos, sinto que tem ódio, só por estarmos ali e oferecermos pessoas negras”, ressalta.

A empresa, assim como outras recrutadoras, foi afetada pela pandemia da Covid-19, o novo coronavírus, e viu vários contratos serem suspensos a partir de maio. Com o fenômeno global de discussão sobre o racismo, a partir da morte do segurança negro George Floyd, nos Estados Unidos, a procura voltou a ocorrer. Em junho, foram atendidas 62 empresas, mesmo número de 2019 inteiro.

“Ainda estamos fechando contratos, mas vejo uma perspectiva boa para daqui até o fim do ano, com a diminuição dos casos de coronavírus e retomada da economia. O tema da diversidade está em alta e precisa ser colocado em prioridade. É o nosso desafio”, prevê a executiva.

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