Cerca de 300 pescadores e marisqueiros de regiões atingidas por manchas de óleo na costa baiana ocuparam nesta terça-feira (22) a sede do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos Naturais Renováveis) em Salvador.
Os trabalhadores reivindicam um posicionamento do governo federal em relação à contenção do óleo que atinge as praias de nove estados nordestinos e restringe a pesca na região.
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Marizelia Lopes, do Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil (MPP), conta que a falta de transparência dos órgãos ambientais é o que deixa os trabalhadores mais preocupados.
“Nós queremos saber o que será feito para as manchas de óleo não afetarem os manguezais. Somos os mais prejudicados por esse crime ambiental e eu não sei como vamos sobreviver. O descaso do governo está nos matando”, afirma.
A Bahia Pesca, órgão vinculado ao governo baiano, identificou que 13.375 pescadores e marisqueiros de oito cidades tiveram suas atividades diretamente prejudicadas pela chegada do óleo no estado.
Os trabalhadores dependem da pesca não só para a geração de renda através da comercialização, como também para a própria alimentação.
Aos 49 anos, Marizelia Lopes conta que a pesca está presente em sua vida desde a infância. Ela explica que a relação dos pescadores com o meio ambiente é uma característica cultural.
“Os pescadores do Nordeste são em sua maioria pessoas de origem negra ou indígena. Nosso contato com o meio ambiente é ancestral e o despreparo do governo para lidar com a crise ambiental ameaça nossa sobrevivência. É mais uma forma de extermínio”, sustenta.
Manchas de óleo e omissão do governo
No início desta terça-feira (22), a praia de Morro de São Paulo, terceiro principal destino turístico da Bahia, registrou a chegada de manchas de óleo. Até o dia 18 de outubro, 90 toneladas de óleo foram recolhidas das praias de Salvador.
O óleo também voltou a se espalhar com mais força nas praias do litoral de Sergipe, de Alagoas e Pernambuco. Desde 30 de agosto, 201 localidades do Nordeste foram atingidas pelas manchas.
O Ministério Público Federal (MPF), em conjunto com procuradores de nove estados, protocolou no dia 18 de outubro uma ação onde acusa o governo de Jair Bolsonaro de omissão no caso do derramamento de óleo na costa nordestina.
A ação pediu à Justiça um prazo de 24 horas para o governo acionar o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Águas sob Jurisdição Nacional (PNC). O plano aborda os procedimentos a serem adotados em casos de acidentes ambientais.
No documento, os promotores revelam terem se reunido com membros do governo federal para discutir estratégias de controle aos vazamentos de óleo. Segundo eles, em nenhum momento o governo apresentou nenhuma medida de proteção às áreas vulneráveis.