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Xenofobia e a presença de jogadores africanos nas seleções europeias

26 de junho de 2018

Dos 736 atletas inscritos na Copa do Mundo da Rússia, 11 jogadores africanos defendem seleções europeias

Texto / Aline Bernardes
Imagem / Getty Images

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A busca por uma vida melhor para seu filho fez os pais de um pequeno garoto camaronês o entregarem para um parente. Samuel nasceu em 1993 na capital Yaoundé e com apenas 2 anos seguiu para a França. Dezessete anos depois, na cidade de Lyon, tornou-se conhecido pelo seu sobrenome: Umtiti. Samuel Umtiti.

A sua capacidade de jogo e potencial consolidaram a sua carreira, e no final da temporada de 2016, ele chamou a atenção do poderoso Barcelona. Dentro nesse cenário, conquistou a mais desejada posição desse esporte de alto rendimento: um lugar na Copa do Mundo.

Histórias semelhantes a esta não são raras. Entre os 736 atletas inscritos na competição deste ano, 83 deles nasceram em um país diferente da seleção que defendem. Os times europeus chamam a atenção por seguirem este perfil.

“O fenômeno das naturalizações tem origem do fluxo migratório do sul para as principais potências capitalistas”, explica Márcio Farias, doutorando em psicologia social.

Com estes movimentos, atletas de outras nações, colônias ou ex-colônias passaram a ter o passaporte europeu. Dessa maneira, essa medida facilitou para as seleções da Europa ganharem caráter multicultural, ou seja, integrado por jogadores de várias nacionalidades, entre as quais estão os 11 jogadores africanos.

“A ascensão de jovens negros no mercado formal não se compara à possibilidade de ascensão no futebol”, diz Márcio. A história do futebol começa na Inglaterra e repete o mesmo roteiro nos outros países: um esporte elitizado que se transformou, com o tempo, na diversão das classes mais pobres. No Brasil, por exemplo, houve um tempo em que negros passavam maquiagem para clarear a pele.

Para a Andressa Ugaya, 31 anos, doutoranda em educação física, a naturalização destes jogadores têm finalidade utilitarista. “Há relação com a escravidão. A diferença é que, agora, não tiram as pessoas a força do continente africano, mas continuam comercializando os povos”, analisa.

Diferente de quando eram colonizadores, a Europa agora vive uma crise humanitária nas suas fronteiras. Mais de 2 mil corpos do Oriente Médio e da África foram encontrados nas encostas do Mediterrâneo. Esse é reflexo da exclusão histórica que continua a excluir no presente. O sentimento xenofóbico e racista de parte da população europeia que engloba os refugiados transpassa as barreiras e encontra as quatro linhas do campo.

“A sociedade é estruturalmente racista. Assim, esses atos acontecem em qualquer âmbito da sociedade”, diz Andressa. O futebol é um fenômeno de massa, e a massa segue de maneira irrefletida. Dentro desse espaço, o sujeito diz e faz coisas que fora desse contexto não faria.

“A conjuntura história é acompanhada pela massa cuja origem tem determinações como classe, raça e gênero, que são refletidos nas palavras de ódio proferidas”, completa Márcio Farias.

Na Rússia, um camaronês, Breel Embolo, defenderá a Suíça. Um jamaicano, o atacante Raheem Sterling, a Inglaterra. Por Portugal, o atacante Gelson Martins, nascido em Cabo Verde, faz parte da equipe comandada por Fernando Santos. O goleiro Steve Mandada, congolês, defende a bandeira da França e foi titular dos Les Bleus contra a Dinamarca – o jogo terminou em 0 x 0 e as duas seleções classificaram-se pelo grupo C para as oitavas de final.

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